Trabalho da disciplina de Música do curso de Teologia (de 12/12/2007)
A busca por um relacionamento com o Criador é muito antiga. Como a história nos mostra, desde a aurora da vida, na relação do homem com Deus, quase sempre, esteve presente a musicalidade. A própria fala humana se altera para expressar alegria, surpresa, tristeza, ansiedade. Inteligente, o ser humano, ao longo dos séculos, estudou e trabalhou esta arte.
Donald Hustad, em “A música na Igreja”, destaca as referências bíblicas sobre a presença da música na religiosidade. Ele ressalta que a Bíblia ao registrar os atos de Deus na história humana, nos orienta, também, quanto a organização dos cultos. E ao longo da história judaico-cristã, conforme nos mostra a Bíblia, a música sempre esteve associada com a adoração. No começo, essa expressão musical parece ter sido algo espontâneo, como entoar um cântico de alegria ou de tristeza. Com o passar do tempo, a música começou a aparecer como algo mais formal.
O livro do Êxodo narra uma experiência musical de ação de graças dirigida por Moisés e Miriã. Essa primeira referência bíblica sobre a musicalidade na adoração, dá conta de que este ato envolveu homens e mulheres e foi uma apresentação vocal e instrumental, com expressão corporal.
Nesse tipo de adoração, havia a expectativa de que a música levasse o adorador a ter uma experiência sobrenatural com Deus. Essa capacidade de a música afetar o comportamento humano, que remonta dos tempos bíblicos, ainda é aceita nos dias atuais.
Provavelmente, segundo Hustad, depois que os judeus foram dispersos deu-se início a adoração nas sinagogas. Antes, as expressões musicais eram espontâneas.
Ao tornar-se formal, a música passou a ser responsabilidade dos levitas, profissionais líderes da adoração. Assim, a música nas sinagogas era dirigida pelos cantores, solistas treinados pelos levitas, enquanto a congregação se limitava a uma pequena participação em alguns améns e aleluias. A música do templo era profissional e sacerdotal.
O canto congregacional surgiu com as primeiras comunidades cristãs, que expressavam sua fé com “salmos, hinos e cânticos espirituais”, conforme relata o apóstolo Paulo. Mas a adoração dos cristãos primitivos, que eram judeus, seguia, em parte, o modelo aprendido na sinagoga.
O homem foi percebendo, com o passar do tempo, que poderia produzir sons diferentes utilizando diversos objetos. Assim, ele foi criando os instrumentos musicais.
A música instrumental também é lembrada na Bíblia, sendo que as passagens que se referem aos instrumentos, e seu uso, são tão numerosas quanto as que falam do canto.
Baseado nas citações bíblicas, Paul Mc Common, em “A música na Bíblia”, afirma que os judeus tinham muita variedade em seu programa de música instrumental. Afirma, também, que eles tinham o cuidado para não incluir certos instrumentos que não fossem apropriados ao culto ou não induzissem à adoração.
Já nos tempos bíblicos, eram usados instrumentos de cordas, de sopro e de percussão. E essa variedade possibilitava que muitas pessoas compartilhassem da parte musical do culto. Os que tocavam instrumentos eram considerados consagrados e dedicados, como eram os que cantavam ou serviam ao altar. Havia uma grande preocupação em tornar os cultos do templo belos e significativos.
Common ressalta que, baseado nas Escrituras, temos autorização e aprovação para usar instrumentos nos cultos, embora o Novo Testamento não os mencione. Jesus nunca os repudiou e até tinha o hábito de freqüentar os cultos nas sinagogas. E Paulo, quando recomenda que as igrejas usem os salmos, certamente subentende o uso de instrumentos musicais.
No tempo do rei Davi, havia turnos para o serviço da casa do Senhor. Cantores ministravam dia e noite diante do Senhor e cantavam com instrumentos musicais. Esse canto precisava se fazer ouvir não apenas dentro do templo, para que Deus tomasse conhecimento, mas também para que o povo, lá fora, escutasse a voz de adoração e júbilo diante de Deus.
O louvor a Deus deve sempre ser executado da melhor forma possível, com devoção, júbilo (alegria) e reverência, mas, necessariamente, não precisa de instrumentos musicais. A Bíblia também menciona as danças que ocorriam durante o louvor.
No meu modo de entender, a relação do homem com Deus pode ocorrer de diversas maneiras e a música auxilia, funcionando como uma linha de transmissão. É importante, entretanto, que a musicalidade seja apropriada para cada situação. Não vejo problema na utilização de qualquer tipo de instrumento, desde que adequadamente.
Entendo, também, que há situações diversas em que o canto e a música podem desempenhar um papel tão importante, se não maior, do que uma pregação. Nessas ocasiões, assim como ocorria nas sinagogas, devemos valorizar, desde a escolha do que será cantado, quem interpretará e que instrumentos serão utilizados. Podemos evangelizar através da música, sem grandes discursos que muitas vezes podem ser eloqüentes, porém vazios.
Vejo também uma outra situação envolvendo a música, como ocorreu com Moisés e Miriã. Acho que toda a pessoa deve ter a oportunidade de expressar os seus sentimentos, a sua gratidão a Deus através da música, ainda que “cante apenas como um pardal”. Moisés não ensaiou um grande coral para então fazer uma bela apresentação diante de Deus. Ele reuniu o povo e juntos entoaram o cântico ao Senhor. E a profetiza Miriã também não selecionou os que a seguiriam com seus tamborins.
Por participar de uma comunidade abençoada em termos de musicalidade, tenho muito clara a importância desse ministério na vida a Igreja. Talvez falte para a nossa amada IEAB uma readaptação aos tempos das sinagogas, ou seja deveríamos ter uma preocupação maior em harmonizar a liturgia e a música, o que, certamente, tornaria os cultos mais agradáveis. Deveríamos ter a mesma preocupação do rei Davi, que o nosso louvor seja ouvido por Deus e também por aqueles que estão fora do templo e que poderão ser levados a ele através desse louvor. Assim como o ensinamento da doutrina cristã, e não apenas sermões, entendo que o aprendizado do canto e da música nas nossas comunidades se faz necessário para a manutenção do jeito anglicano de ser Igreja.
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