quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Sentimento natalino

Eu nunca me dei muito bem com essas datas (Natal e Ano Novo). Me bate uma nostalgia, tenho saudades do meu tempo de criança, lembro de uma ocasião que fizemos uma encenação na Igreja em São Chico entrando vestidos de anjos enquanto os adultos cantavam "Nasce Jesus".Depois disso, sempre foi faltando alguma coisa ou alguém. E acaba batendo a tristeza.E além disso, o verdadeiro sentido do Natal parece tão abandonado. É festa, presentes, desperdício em nossas mesas.Enquanto isso, tanta gente passando necessidade, sem esperança.Mesmo assim, só me resta pedir a Deus que abençoe os meus amigos e que não percamos de vista o ensinamento de Jesus!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Que mundo temos construído para vivermos

Essa imagem, que encontrei no ClicRBS, mostra o quanto nós, seres humanos, somos selvagens e desrespeitamos nossos semelhantes.
Que sonho de vida deve ter essa menininha e que esperança ela pode ter?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O sofrimento humano

(Mais um texto que elaborei para a disciplina Teologia e Metodologia Pastoral)

Se Deus é bom, como explicar tanta dor no mundo?

Ainda se não bastassem, as divergências e picuinhas entre os cristãos das diversas denominações, outro ponto crucial embaraça o crente e, às vezes, faz a sua fé balançar: o sofrimento humano. Se Deus é bom, e todo o religioso convicto tem essa certeza, não podemos atribuir o sofrimento à vontade do Criador. Por outro lado, se existe o mal, e não temos como negá-lo, pode ficar fragilizado o argumento de que Deus é bom e onipotente. Aqui, parece-me que se encaixa bem a tese de Santo Agostinho de que é preciso crer para compreender, pois só acreditando em Deus e na Boa Nova de Jesus Cristo podemos aceitar o sofrimento sem incorrer no tão comum erro de atribuí-lo aos desígnios do Criador.

O tema sofrimento humano tem tirado o sono de muitos cristãos, sejam eles teólogos ou leigos. Há, inclusive, algumas correntes de pensamentos neo-pentecostais que pregam que o verdadeiro crente está imune ao mal. Outros, também fundamentalistas, sem se darem conta que com isso estão tirando a bondade do Criador, atribuem o mal a vontade de Deus. Encontramos, ainda, aqueles crentes “pés no chão” que, racionalmente, aceitam a existência do mal e do sofrimento e o atribuem ao livre-arbítrio, à ganância humana, à falta de solidariedade. Esses últimos, embora, às vezes, lhes faltem argumentos para explicar o sofrimento, conseguem compreender que a dor humana independe do grau de fé que possuímos. Compreendem, inclusive, que a fé ajuda a suportar o sofrimento. Quando a pessoa tem fé, passa a impressão de que o sofrimento lhe aproxima ainda mais de Deus. Aliás, Jesus mesmo disse: “Felizes os que sofrem, pois herdarão o céu...”

Nada sintetiza melhor o sofrimento do que a paixão e morte de Jesus, na cruz. Ele pagou, injustamente, pelos pecados de toda a humanidade. Quando sofremos e suportamos a dor, experimentamos a cruz. Essa é a opinião do teólogo Martin Dreher em uma de suas obras. Ele usa a figura bíblica de Elias para falar sobre o sofrimento, ressaltando que na vida do profeta podemos perceber muito do que experimentamos em nossas vidas. Dreher chama atenção para os altos e baixos, glórias e derrotas na vida de Elias. Essas alternâncias existenciais permitiram que o profeta vivenciasse o que significa experimentar a cruz.
Desde os tempos mais remotos, a humanidade busca sempre a vitória, a glória. Foi assim com Elias, no monte Carmelo. Derrotar e humilhar os profetas de Baal, conforme o relato bíblico, foi uma glória para o profeta. E nós hoje, invocando esse mesmo Deus, buscamos sempre mais. Precisamos ser os melhores na escola, no trabalho, na sociedade. E quando isso ocorre, comportamo-nos de forma ainda mais cruel do que Elias. Ele atribuía a seu Deus a vitória, enquanto nós, na maioria das vezes, esquecemos de Deus quando somos bem sucedidos.
Mas Deus, na sua infinita bondade, veio ao mundo para mostrar-nos que a verdadeira vitória não está em derrotar os nossos desafetos. Jesus Cristo, encarando a natureza humana, venceu o mundo e a morte, com o verdadeiro amor, compadecendo-se com os que sofrem, chorando com os enlutados, querendo o bem até mesmo daqueles que o desprezam. E o seu sofrimento foi ao extremo, até a morte na cruz.
Jesus ensinou que o seu reino não era desse mundo e nós, no momento de maior dor que é o da morte de nossos entes queridos, usamos uma liturgia pascal. Mas isso não nos deve tornar insensíveis, pois o próprio Jesus chorou diante da sepultura de seu amigo Lázaro.

Depois de ter sido ateu por muitos anos, C. S. Lewis, em seu livro “O Problema do Sofrimento”, enfatiza que é preciso uma reflexão muito profunda para que possamos discorrer sobre o tema sem passar aos incrédulos a idéia já corrente de que a religião é algo ingênuo e sem fundamento. Lewis ressalta que as criaturas provocam sofrimento ao nascer e vivem infligindo sofrimento e, além disso, são dotadas de razão, uma qualidade que lhes tornam capazes de prever o seu próprio padecer, sua própria morte. A história humana, em sua maior parte, é um registro de crimes, guerras, doenças e terror. E quando se é feliz, vivemos temendo perder essa felicidade.
Diante desse quadro, Lewis argumenta que não há como acreditar que isto seja obra de um espírito benevolente e onipotente. Toda a evidência aponta para a direção oposta, ou seja: que não exista um espírito por traz do universo ou que ele seja perverso e indiferente ao bem e o mal. Assim, Deus seria o oposto do que prega o cristianismo, pois seria inconcebível atribuir a um Criador sábio e bondoso a criação de um universo mau.
Este mesmo autor adverte que, em certo sentido, o cristianismo cria, em vez de resolver, o problema do sofrimento. Quando falamos da onipotência de Deus, devemos ter bem claro que ela significa poder para fazer tudo que é intrinsecamente possível e não para fazer o que é intrinsecamente impossível. Lewis também chama atenção para o fato de que Deus pode fazer milagres, mas não tolices. E isto não é um limite ao seu poder. Nem mesmo a Onipotência poderia criar uma sociedade de almas livres sem ao mesmo tempo criar uma natureza inexorável e relativamente independente. A liberdade de uma criatura deve significar liberdade de escolha e escolha implica na existência de coisas a serem escolhidas. Se estivéssemos num mundo que variasse conforme os caprichos do Criador, não haveria o exercício do livre-arbítrio. O que nos parece bom pode não ser bom aos olhos de Deus e o que nos parece mau pode não ser mau. A bondade divina diverge da nossa.
O problema de reconciliar o sofrimento humano com a existência de um Deus que ama só é insolúvel enquanto associamos um significado trivial à palavra amor e considerarmos as coisas como se o homem fosse o centro delas. Lewis observa que o homem não é o centro e Deus não existe por causa do homem. Quando queremos ser outra coisa que não aquela que Deus quer que sejamos, devemos estar desejando, de fato, aquilo que não nos fará felizes. Deus dá o que Ele possui e não o que não possui.

Ram Dass e Paul Gorman, no livro “Como Posso Ajudar? Estórias e Reflexões sobre Serviço”, ressalta que o sofrimento dos outros espontaneamente liberta nosso desejo de socorrer. Abrimos o coração, nos sensibilizamos com o problema, mas, segundo o livro, ai surge a preocupação quanto ao grau de exigência que o sofrimento alheio acarretará sobre nós. Aparece, então, o medo que é uma reação ao próprio sofrimento e uma reação de resistência à compaixão natural do coração quando este vai ao encontro de alguém para participar de sua dor. Enquanto o coração não conhece limites na doação de si próprio, a mente se sente chamada para estabelecer limites. Por isso nos parece tão difícil escolher como vamos responder à dor de outros.
Dass e Gorman destacam que talvez procuremos solucionar essa tensão sem realmente ter que abrir a porta ao sofrimento. Como uma descarga de consciência, visitamos, rapidamente, um amigo doente ou fazemos uma contribuição beneficente, mas será que essas medidas vão satisfazer os corações, o nosso e o de quem sofre? Ajudar significa muito mais do que isso. Muitas vezes abrimos a porta parcialmente, demarcando limites de tempo e espaço para nosso envolvimento com o sofrimento dos outros.
Jesus teve compaixão do povo humilde que sofria. Por isso alimentou multidões e curou muitas pessoas. Dass e Gorman argumentam que a compaixão vem normalmente à medida que nos abrimos para a experiência do sofrimento. Quando observamos o sofrimento dos outros e nos compadecemos deles, nossa mente se abre e encontramos o apoio da verdade viva para ajudar.

Tanto quanto é difícil falar sobre o sofrimento, é importante refletir sobre ele. E quanto menos buscamos conhecê-lo, mais incorremos no erro de atribuí-lo ao diabo ou até mesmo a Deus. Seguidamente ouvimos pessoas dizerem, quando vêem alguém sofrendo: “É a vontade de Deus!”, “Deus quis assim!”, “Deus sabe o que faz!”. E tanto se ouve isso que acabamos não nos dando conta que Deus não pratica o mal e nem paramos para perceber o quanto de culpa temos ou o quanto somos indiferentes ao sofrimento dos outros.
Mas quando, realmente, vivemos a experiência da cruz, passamos a enxergar o mundo com outros olhos e, seguindo o exemplo de Cristo, temos compaixão pelos que sofrem e sofremos com eles. E essa experiência de compartilhar a dor nos traz maturidade, coragem e serenidade para encarar as dificuldades e provações que a vida nos reserva.
E mesmo que tenhamos a tentação de pensar que Deus, criador de todas as coisas, é também responsável pelo mal, vale ressaltar, como disse C.S. Lewis, foram os homens e não Deus que inventaram a tortura, os chicotes, as prisões, a escravidão, as armas, as baionetas e as bombas. Também, a pobreza e o excesso de trabalho são produtos da avareza ou da estupidez humana e não uma distorção da natureza.
Talvez a humanidade não possa erradicar por completo o sofrimento, mas, com certeza, viveríamos muito melhor e conviveríamos mais tranqüilamente com o sofrimento, se buscássemos primeiro fazer a vontade de Deus e O colocássemos no centro de nossas vidas. E sempre vale lembrar que Deus mesmo se fez homem e viveu entre nós, sofrendo por nossas culpas, sem nunca perder a compaixão.

REFERÊNCIAS

DASS, Ram; GORMAN, Paul. Como Posso Ajudar? Estórias e Reflexões sobre Serviço. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1987.

DREHER, Martin N.; Conversando sobre Espiritualidade, São Leopoldo: Editora Sinodal, 1992.

LEWIS, C. S.; O Problema do Sofrimento,Oxford. 1940.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Aprendendo a lidar com a morte

(O texto a seguir, elaborei como trabalho de aula da disciplina Teologia e Metodologia Pastoral.)

O tema morte nos leva a pensar também sobre dor, sofrimento e saudade. Mas para o cristão, este assunto vem sempre acompanhado pelo tema Ressurreição. Muitos estabelecem que a morte representa o fim de tudo. A fé cristã, entretanto, nos faz crer que quando morremos ingressamos na Vida Eterna. Essa esperança de vida após a morte faz com que o cristão encare com mais serenidade a dor, o sofrimento e a saudade. Como bem resume o Livro de Oração Comum, a liturgia pelos falecidos é uma liturgia pascal e todo o seu significado se concentra na Ressurreição. Mas, embora a morte seja assim encarada, quando perdemos um ente querido levamos algum tempo para nos acostumarmos com o fato. O próprio Jesus chorou ao tomar conhecimento da morte de seu amigo Lázaro. Quando vigiamos e oramos, a morte nos faz chorar, porém não nos surpreende nem causa desespero.

Outro dia, uma colega de trabalho estava preocupada porque seu filho, um menininho de quatro ou cinco anos, encasquetou que o mundo ia acabar e começou a fazer perguntas, querendo os pais sempre por perto. Isso me fez lembrar que os primeiros cristãos acreditavam que esse mundo em que vivemos logo acabaria: os justos iriam para o céu, junto com Cristo, e os maus para o inferno.
Diante da violência, das tragédias provocadas pela natureza, pela ação irresponsável do homem e outras intempéries que nos afligem, volta e meia, deparo-me com minha mãe, do alto de seus 81 anos de vida e de fé, dizendo: “Isso é sinal dos tempos; o fim está próximo”.
Sob a alegação de que a vida está tão atribulada e tudo corre tão rápido, talvez muitas pessoas tentem desviar seus pensamentos do tema morte. Mas não há como fugir dela. Se o menininho, filho da minha colega, tiver a mesma oportunidade que teve minha mãe e for instruído na esperança da Ressurreição, seus temores, aos poucos, se dissiparão e, mesmo sem provas concretas, ele crescerá confiando que a morte é apenas mais um obstáculo a ser vencido. É natural que tenhamos medo da morte, mas vale lembrar o que disse Jesus: “Eu sou a Ressurreição e a Vida; o que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá eternamente.” Portanto, a vida não acaba na morte.

“O Senhor é meu Pastor e nada me faltará.”
Um câncer dizimou minha avó materna, na metade da década de 1970, quando seus 12 filhos, relativamente jovens, talvez não estivessem suficientemente maduros na fé para encararem aquela primeira baixa na família.
Dona Elisa, nunca fora uma pessoa expansiva e não tenho lembrança de uma única vez em que ela tenha se manifestado na Igreja sobre a sua fé. Ela não falava de sua fé, ela a vivia. Estava sempre presente, sempre pronta a trabalhar pela congregação, porém sem salientar-se. As melhores lembranças que tínhamos dela, antes daquele período em seu leito da morte, eram as guloseimas que preparava, principalmente, na véspera do Natal e da Páscoa.
Os anos todos de exercício da fé, ao lado de meu avô, dobrando os joelhos diariamente antes da cada refeição (tivesse a mesa farta ou não), dando graças pelas suas vidas, pelos filhos, netos e bisnetos, não foram em vão. A morte encontrou Dona Elisa pronta para a Vida Eterna. E antes de partir ela repartiu com seus filhos, parentes e muitos amigos, a semente de sua fé. Ninguém precisou consolá-la. Todos que a visitaram no hospital ouviram-na recitar do Salmo 23 com confiança e convicção, deixando-nos algo ainda mais doce e saboroso que os seus sequilos. Vovó nos mostrou na prática que “viver é Cristo e morrer é lucro”.

A década de 1970 foi de perdas significativas para mim. Vó Elisa nos deixou em 1976. Em 78 e 79, respectivamente, morreram meus avós Manoel e Acácio. Antes disso, em 1973, fiquei órfão de pai.
Numa época em que a medicina ainda não dispunha da tecnologia e dos conhecimentos atuais, convivemos por anos com a enfermidade de meu pai. Eu era ainda um menino quando os médicos diagnosticaram que meu pai, homem moço, tinha sérios problemas cardíacos.
A participação efetiva na vida da Igreja nos foi muito importante diante daquela constatação. Não houve desespero na família, mas a cada crise de seu Ary, pensávamos que poderia ser a última. Passou-se quase uma década até que veio o inevitável.
Este tempo de “maturação” da morte de meu pai, embora nunca tenhamos tratado do assunto abertamente, ajudou-nos a buscar forças para aquela hora e para o período natural de saudade e dor pela separação. Assim, entendo que o sofrimento de meu pai e, conseqüentemente, de minha mãe, de meus irmãos e meu, serviu para nosso crescimento na fé e na compreensão sobre a vida e a morte.

Neste ano de 2008, estou vivendo novas experiências nesta área. Foram quatro óbitos nos últimos nove meses, na Paróquia de Todos os Santos, o que proporcionou-me um novo aprendizado. Tive de encarar a situação, não apenas como membro da congregação mas como o líder, pois nosso pároco, com problemas de saúde pessoal, nem sempre esteve presente.
Vivenciar estes momentos de dor, ouvir os lamentos dos enlutados, buscar uma palavra de consolo e conforto, orar com e pelas pessoas, além da preparação de meditações tornaram-se uma rotina. Foi algo marcante nesta minha caminhada de preparação ao Sagrado Ministério e devo ter contribuído com a congregação, mostrando, à luz do Evangelho, que nada, nem mesmo a morte, pode nos afastar do amor de Deus. A congregação e os familiares dos falecidos, por sua vez, responderam com suas atitudes, que assimilaram o ensinamento da Igreja e que trazem muito viva a esperança de ver a Glória de Deus.
A solidariedade e desprendimento de cada irmão e irmã, servindo aos familiares enlutados nos momentos de despedida, preocupando-se desde a acolhida dos amigos e parentes vindos de longe, até a participação na liturgia, sempre reconhecendo o amor de Deus por todos nós, demonstram claramente a compreensão e convicção que prevalece na congregação.

Quando falamos em morte, logo nos vem à mente o sofrimento que, como já referimos em paper anterior, não é vontade expressa de Deus. Vimos também o quanto é difícil buscar uma explicação para o sofrimento humano.
Dentre as perdas que tivemos na Paróquia de Todos os Santos neste ano de 2008, uma, particularmente, me levou à reflexão mais profunda sobre o sofrimento.
Tendo vivido quase 90 anos “no temor de Deus”, servindo de exemplo de humildade, caridade e devoção, no final do ano passado, D. Ida deparou-se com mais uma, e talvez a maior, adversidade. Sua saúde foi definhando, o seu assento nos bancos da Igreja começou a ficar vazio, rarearam as suas idas ao Salão Paroquial para auxiliar no preparo da sopa que semanalmente é servida para uma comunidade carente do bairro. Logo, não se viu mais na rua aquela figura simpática e querida por todos. Com a chegada do inverno, o quadro clínico se agravou e D. Ida passou meses sofrendo sobre uma cama, até a morte.
Inevitável questionamento nos vem à mente diante de situações semelhantes a dessa nossa irmã na fé. Porque tanto sofrimento para uma pessoa tão boa?
Não me encorajo a atribuir tal circunstância à vontade de Deus, mas entendo que situações como essa nos conduzem à busca de uma comunhão mais íntima com o Criador. Mais ainda quando a pessoas que está sofrendo, como foi o caso de D. Ida, manifesta de forma tão evidente a sua gratidão a esse mesmo Deus. Logo, só encontro uma resposta plausível: As pessoas que conviveram com o sofrimento de D. Ida tiveram oportunidade de sentir a presença de Deus e se sentiram chamadas para uma vivência mais santa, tendo como exemplo a própria D. Ida.

“Eu sei que o meu Redentor vive e que, ao final, se levantará sobre a terra. Depois Ele me ressuscitará e eu verei a Deus. Sim, eu mesmo O verei, os meus próprios olhos contemplarão a um amigo e não a um estranho”. (Jó 19: 25-27)
A fé cristã está alicerçada na Vida, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, portanto, são oportunas as palavras de Jó que mesmo tendo sido homem justo, sofreu intensamente. É importante que ensinemos às nossas congregações que Deus não se alegra e não quer o sofrimento humano e que o sofrimento não está relacionando ao pecado. Quem sofre não sofre porque pecou. Por outro lado, entendo que quando sofremos abrimos caminho para uma relação mais profunda com Deus. Não se trata de uma experiência masoquista. O que ocorre é que quando tudo vai bem em nossas vidas, podemos incorrer no erro de nos considerarmos auto-suficientes e nos afastarmos de Deus. Aliás, como bem exemplifica o teólogo Martin Dreyer, quando vivemos a experiência da cruz e seguimos o exemplo de Cristo, temos compaixão pelos que sofrem e sofremos com eles. Assim vivendo, não veremos a morte como algo terrível e como o fim. Aprendendo a conviver com a morte, à luz do Evangelho, percebemos que ela nos abre as portas para a Vida Eterna na presença de Deus.