sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Para entender o que se passa na Câmara

Na sessão da Câmara de Vereadores de Campo Bom, na segunda-feira (30 de setembro), descontente com uma nota do Partido Socialista Brasileiro (PSB), o vereador Deoclécio Schütz (PMDB) foi à tribuna e fez uma série de acusações contra os socialistas e, principalmente, contra Vicente Selistre, suplente de deputado federal pelo PSB e presidente do Sindicato dos Sapateiros de Campo Bom. Para que o leitor entenda e relembre o contexto e se situe para tirar suas próprias conclusões sobre discurso do vereador, vale relatar alguns fatos ocorridos nos últimos meses em Campo Bom.
No dia 23 de junho, a exemplo do que vinha ocorrendo em todo o país, uma multidão tomou as ruas de Campo Bom. Redução do preço da passagem de ônibus, punição dos envolvidos na “farra das diárias”, isenção de tarifas do pedágio da RS-239 para moradores de Campo Bom e uma estação do trem metropolitano na área urbana do município foram as principais reivindicações das cerca de 3,5 mil pessoas que participaram do evento. Dois dias depois, manifestantes lotaram a Câmara de Vereadores de Campo Bom buscar respaldo do Legislativo às reivindicações cobradas nas ruas.
A Mesa Diretiva da Câmara, da qual o vereador Schütz é integrante, ignorou o apelo popular e até foi intransigente, ameaçando retirar à força, do plenário, alguns manifestantes. Um ofício com as principais reivindicações foi rejeitado, sob alegação de que ele não seguiu os trâmites legais. Ora, diante da mais pura manifestação, em todos os rincões deste nosso imenso Brasil, do inconformismo com a indiferença e falta de respeito com o povo, era de se esperar que, no mínimo, os manifestantes fossem ouvidos. Depois de tudo o que se viu pelo País afora, não poderíamos esperar que a presença dos quase 200 manifestantes, representantes legítimos das mais de três mil pessoas que foram às ruas de Campo Bom, fosse ignorada. Mas foi!
A partir desse episódio, as sessões passaram a ser tensas, com frequentes manifestações de descontentamento por parte da assistência. Os ânimos no plenário ficaram ainda mais acirrados na noite de 31 de julho, quando representantes da Stadbus (Consórcio Coletivo Campo Bom) foram à Câmara para falar sobre custos e valor da tarifa de ônibus no município. Depois de algumas provocações de alguns vereadores (Schütz, ironicamente, jogou beijinhos para a assistência) muitas pessoas protestaram e a presidência optou por encerrar a sessão. Na semana seguinte, mais uma mostra de autoritarismo: uma resolução da Mesa Diretiva aplicou suspensão de 60 dias a dois manifestantes da sessão do dia 31. Entre os punidos estava Paulo Rogério Leites, membro da executiva municipal do PSB.
O PSB não mediu esforços e logo seu filiado obteve uma liminar na Justiça e teve restabelecido seu direito constitucional de acompanhar os trabalhos do Legislativo. Enquanto isso, uma sindicância havia sido instaurada com o claro propósito de intimidar e frear a atuação do vereador Jair Wingert, socialista que vem realizando trabalho invejável no Legislativo campo-bonense. E no dia 16 de setembro, numa sessão especial (embora ordinária) comemorativa à Semana Farroupilha, realizada no CTG M’Bororé, a Mesa da Câmara conseguiu aprovar uma suspensão de 30 dias ao vereador Wingert.
Diante de todos esses fatos, o PSB de Campo Bom emitiu uma nota repudiando veementemente a decisão da Câmara de Vereadores considerando arbitrária e autoritária a punição. A nota diz que “esta é mais uma mácula no Legislativo campo-bonense que se distancia cada vez mais do povo, o que deveria ser a sua razão de ser”. Questiona, também, “a forma sorrateira como a matéria foi votada, justamente numa sessão realizada fora da sede da Câmara”.

Autoritarismo e arbitrariedade são típicos de regimes ditatoriais e a tentativa de sufocar iniciativas ou propostas que não tenham o aval dos mandatários do município, podem, sim, ser comparados aos regimes totalitários. Proibir cidadãos de assistirem as sessões, suspender vereador que trabalha pela comunidade, não parecem as melhores medidas para moralizar a política em Campo Bom. Isso mais parece perseguição. Ou perseguição seria pedir apoio e pressão para que a Justiça agilize a apuração das responsabilidades na farra das diárias?