sexta-feira, 13 de junho de 2014

Futebol é esporte coletivo


Eu alertava na quinta-feira, antes de começar aquele sofrido jogo contra a Croácia, que futebol é esporte coletivo e que precisamos praticá-lo assim para chegarmos ao tão sonhado Hexa. E como todo brasileiro que gosta de bom futebol, fui pra frente da TV nesta tarde chuvosa de sexta-feira (13), para conferir a estréia de Espanha e Holanda. Um dos dois, muito provavelmente, será o adversário do Brasil na próxima fase.
E o que vi me faz acreditar cada vez mais que futebol é esporte coletivo. A Espanha, não se enganem, mesmo levando uma goleada, tem qualidade. E a Holanda, então, deu aula de coletividade, disciplina tática, de parceria dentro de campo. Aí Eu fiquei imaginando: como seria bom se nossa seleção tivesse humildade para compreender, de vez por todas, que podemos ter o jogador mais genial entre todos que participam da Copa, mas ele tem que jogar para a equipe.
É muito cedo para apontar a Holanda como favorita. Aliás, os holandeses já foram sensação de outras copas, mas é certo que, não só pelo placar elástico, aparecem como fortíssimo candidato.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Oscar, o melhor em campo na abertura da Copa



A substituição de Oscar por Willian na Seleção Brasileira era dada como certa até metade do jogo de estréia, contra a Croácia, por grande parte da Imprensa do Centro do País. Mas o garoto revelado no Beira Rio deu resposta a altura e, em que pese o individualismo exagerado do Neymar, ele criou as jogadas dos dois primeiros gols do Brasil e marcou o terceiro. Para desespero daqueles que queriam sacá-lo do time, Oscar foi eleito o melhor em campo.
Está de parabéns o Oscar pela atuação e pela dedicação. Também merece reconhecimento o Felipão, que não se deixou levar pelos palpites dos “entendidos” e sustentou a titularidade de Oscar. Espero que o Neymar se convença de que tem um grande parceiro, “garçon” da melhor qualidade, e haveremos de levantar o caneco com mais uma dupla que entrará para a história.

Queremos o Hexa, queremos o coletivo

Como a maioria esmagadora dos brasileiros, sou apaixonado por futebol e esta é a 13ª Copa do Mundo que acompanho. De 1966, quando fracassamos na Inglaterra, até aqui, muita coisa mudou em termos de tecnologia. Houve avanços incríveis. Passamos do rádio valvulado às transmissões por cabos de fibra óptica, que nos oferece uma imagem perfeita. Lembro que 48 anos atrás, tudo era tão distante. Hoje é tudo tão próximo, tenho até amigos que estarão lá dentro dos estádios, trabalhando. Quanta coisa mudou!
O que infelizmente parece não ter mudado é o oba oba, alimentado por muitos setores da grande Imprensa. Em 66, o Brasil seria Tri na terra da Rainha, pois já havíamos vencido duas copas seguidas e tínhamos o Pelé. Os mais antigos lembram o que aconteceu: apagaram o nosso craque e não tivemos forças para dar a volta por cima. Foi a segunda pior campanha que tivemos na história das copas.
Vejo hoje uma situação muito semelhante, ou talvez mais preocupante do que a de 1966, embora a Copa do Mundo ocorra em solo brasileiro. Só o que se ouve falar é que a nossa seleção é Neymar e mais dez. Até nas entrevistas do técnico Felipão ele tem direito a se meter e dar palpites. E me assusta, também, que dentro de campo ele, o Neymar, pensa que pode resolver tudo sozinho. Quem assistiu o último amistoso do Brasil sem a paixão cega de muitos, deve ter visto o jogo da mesma forma que eu vi. O cara buscava a bola lá na intermediária brasileira e levava, sem olhar para os companheiros, até perder. Nos salvamos de um empate por um lance isolado, sem a participação do próprio Neymar.

Tomara que eu esteja errado e que o Brasil apresente um futebol competitivo e coletivo. Afinal, todos nós, 200 milhões de brasileiros, somos apaixonados por futebol e queremos levantar a taça mais uma vez. As broncas com os mandos e desmandos, com os desvios de recursos e tantas outras mazelas que foram apontadas nesses anos todos de preparação (ou seria despreparação?) para o evento, ficam para depois. Agora é hora de torcer pelo Hexa.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Quanta máscara...

Gerou caloroso debate na Câmara de Vereadores de Campo Bom, segunda-feira (9), projeto que proíbe uso de máscara em manifestações públicas em Campo Bom. Quanta máscara...
Passado exatamente um ano das manifestações populares pelas ruas de todo o País e, obviamente, também de Campo Bom, a nossa Câmara de Vereadores aprovou matéria que tem por objetivo “a proibição dos cidadãos de utilizarem máscara ou qualquer meio capaz de ocultar o rosto com o propósito de impedir sua identificação em manifestações públicas no município de Campo Bom”.
Sou contra o uso de máscara em qualquer situação, exceto no Carnaval e em espetáculos culturais que a recomende. E confesso que esperava mais dos nossos legisladores. Admitamos que é preocupante a presença de mascarados e baderneiros nas manifestações públicas que tem ocorrido por todos os lugares. Mas eu esperava que antes de discutirem e estabelecerem como as pessoas devem ir para as ruas em suas manifestações, que nossos vereadores criassem mecanismos que permitissem a manifestação popular de outra forma. Quem sabe com a criação da Tribuna Popular que abrisse espaço para a sociedade organizada apresentar suas reivindicações e seus anseios. Esperava (um pouco utópico, é verdade) que nosso Legislativo desencadeasse uma grande mobilização que viesse a cobrar uma nova postura da classe política, lutando contra a corrupção e o desrespeito pelo povo.
Insisto na criação da Tribuna Popular na Câmara de Vereadores, pois o próprio autor do projeto contra as máscaras se diz favorável a toda e qualquer manifestação pacífica. Dez minutos em cada sessão para ouvir a comunidade poderia trazer bons resultados e seria um bom exemplo de apoio às manifestações.

Do contrário, só me resta pensar: Quanta máscara!

sábado, 7 de junho de 2014

Fernandão, como se fosse da família

Sempre me policio e tento me conter dainte de muitas situações de dor e tristeza. Quando soube, na manhã deste sábado, do acidente que tirou a vida do Fernandão, fui tomado de enorme emoção e profunda tristeza. Um grande sentimento de perda, como se tivesse perdido um parente querido. Lembrei-me de tantos parentes e amigos queridos que já se foram.
Não demorou para eu traçar um paralelo entre a morte do Fernandão e a perda do meu primo Altemar (Cabo Lima - estupidamente morto por um assaltante, anos atrás.) A perda do Altemar, bem me lembro, me tirou o chão, era uma referência desde a minha tenra idade. Eu e muitos outros garotos da minha idade aprendemos a jogar goleirinha encarando os chutões do Lima. Aprendemos também muito sobre a vida e o respeito pelos nossos semelhantes com ele. Para dar uma ideia de quem era meu primo Altemar: ele era contemporâneo do Alcindo, centroavante do Grêmio que chegou até a Seleção Brasileira e foi para a Copa da Inglaterra em 1966. Alcindo e Altemar começaram jogando juntos em Sapucaia do Sul. Quando o Grêmio levou o Alcindo, dirigentes do Inter tentaram levar meu primo para os Eucaliptos, mas quis o destino que ele não enveredasse para o futebol profissional. Assim, Altemar sempre esteve bem próximo da primaiada (e éramos uma família enorme).
O Altemar era primo, o Fernandao não, mas porque essa tristeza pela sua morte? Foi apenas mais um jovem (36 anos para morrer é muito jovem). Não, não foi apenas mais um jovem. Fernando Lúcio da Costa teve um papel de parente, primo, irmão (como o Altemar), com quem eu e metade do Rio Grande dividimos alegrias, tristezas, emoções durante anos. Foi com ele que cantamos "Vamo, vamo Inter!" e levantamos o caneco do Mundial. E se não bastasse a vibração, determinação e liderança dentro do campo, Fernandão (como meu primo Altemar) tornou-se uma referência para mim e para muitos. Só me resta o consolo e a certeza, neste momento de dor, de que neste momento o recém chegado Fernandão está trocando passes com o Cabo Lima no time do Céu.

Em tempo: A foto que ilustra esse comentário mostra Fernandão com meu querido amigo Ricardo Diefenbach (o Mano), que tinha no nosso sempre Capitão, uma referência, também.

domingo, 1 de junho de 2014

Feliz Aniversário IEAB


Nossa amada IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil comemora neste 1º de junho os seus 124 anos. Para lembrar a data, publico aqui trabalho que fiz para a disciplina de Teologia e Metodologia Pastoral, no Seminário Teológico Dom Egmont Machado Krischke - SETEK, em 2008.

Conhecendo Minha Diocese
Diocese Meridional

Fernando da Silva Santos
Prof. Revdo. Hermes Daniel Rodriguez
Seminário Teológico Dom Egmont Machado Krischke – SETEK
Teologia e Metodologia Pastoral
25/06/2008

RESUMO

Para conhecer a história da Diocese Meridional da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, é necessário conhecer a própria IEAB. E para entender a sua realidade, igualmente, é preciso conhecimento sobre sua trajetória nestes 109 anos de atuação em solo brasileiro. Os primeiros anos foram de grande expansão, mas a partir da década de 1950, quando ocorreu a divisão do Distrito Missionário em dioceses, as dificuldades começaram a surgir e se agravaram na década de 1980, com a emancipação financeira. Nesse cenário, a Diocese Meridional sobreviveu, manteve-se fiel ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, como ensinaram os missionários Morris e Kinsolving, mas seu crescimento cessou. Hoje, a Diocese Meridional busca alternativas para enfrentar os novos desafios.

Palavras-chave: Desprendimento; Coragem; Confiança.

1 INTRODUÇÃO

A origem da Diocese Meridional confunde-se com o surgimento da Igreja Episcopal no Brasil. Embora a diocese somente tenha sido criada em 1950, quando houve uma divisão territorial da Igreja Brasileira, a sua história começa com a chegada dos missionários James Watson Morris e Lucien Lee Kinsolving, em 1889, ano da proclamação da República. Antes disso, em 1853, durante o Império, a Igreja Americana mandara ao Brasil o missionário Willian Cooper, mas este não logrou êxito em sua investida.
No final do século XIX, as igrejas Presbiteriana e Metodista já atuavam no centro do País. Os batistas também tentavam atuar no Rio de Janeiro e na Bahia, lembrando sempre que a Igreja Católica Romana era a “religião” oficial. Por esse motivo, Morris e Kinsolving se estabeleceram em Porto Alegre, em 1890. Em 1891vieram os missionários William Cabell Brown e John Gaw Meem. Este último tinha interesse especial pelo País, pois seu pai havia trabalhado como engenheiro na Estrada de Ferro Central do Brasil.


2 PRIMEIROS PASSOS

O missionário Henry Martyn foi o primeiro anglicano a pisar no Brasil. Em 1805, ele estava viajando para a Índia e permaneceu por 15 dias na Bahia.Outro anglicano que esteve no Brasil, antes da vinda de Morris e Kinsolving, foi Richard Holde, que viveu no Pará entre os anos de 1860 e 1872.
O anglicanismo floresceu, aqui, graças à dedicação e trabalho incansável dos missionários. Mas também precisam ser lembrados os catequistas, leigos preparados pelos reverendos, que, igualmente, dedicaram suas vidas pela causa de Cristo. O primeiro catequista foi Vicente Brande.
A seara, como hoje, era grande e os trabalhadores eram poucos. Mesmo assim, superando a falta de pessoal e as distâncias, em setembro de 1891 já havia trabalho da Igreja Episcopal em Porto Alegre, Santa Rita e Rio Grande. Enquanto Morris e Kinsolving se desdobravam para organizar e ampliar a missão brasileira, os catequistas Boaventura Oliveira (em Santa Rita), Américo Vespúcio Cabral (Porto Alegre) e Vicente Brande (em Rio Grande) cuidavam da manutenção das crescentes comunidades recém criadas.


3 EXPANSÃO

Com base na história dos primeiros passos da Igreja Anglicana no Brasil, percebe-se que as atividades da Diocese Meridional, ou o que viria a ser a DM meio século depois, iniciaram com as comunidades de Porto Alegre, Santa Rita e Rio Grande.
Os anglicanos no Brasil, nunca fizeram proselitismo, porém a sua história está repleta de padres, pastores e até congregações inteiras que deixaram suas denominações de origem para seguir o modelo e a doutrina da Igreja Episcopal. A congregação de Rio Grande foi o primeiro exemplo disso. Uma comunidade fundada pelo missionário presbiteriano Emanuel Van Orden que, em 1891, transferiu-se para o anglicanismo. O Revdo. Morris foi o seu primeiro pároco.
Homens de fé profunda e consciência da obra que haveriam de realizar no solo brasileiro e também com grande percepção das necessidades do povo, os missionários logo viram que Pelotas (hoje sede de uma diocese), a cidade mais importante do Estado, depois de Porto Alegre, era solo fértil para lançar as sementes do anglicanismo. Assim, em 1892, foram enviados para lá o Revdo. Meem e o catequista Antônio Fraga. A missão começou numa sala de José Fernando Duval, pai do futuro Revdo. Nataniel Duval da Silva.
Em 1907, a Missão Episcopal no Brasil foi elevada à condição de Distrito Missionário.


4 VISITA EPISCOPAL

O primeiro bispo a visitar o Brasil foi Gerge W. Peterkin, que desembarcou em Rio Grande em 23 de agosto de 1893. Ele conheceu o trabalho de todas as congregações: Rio Grande, Porto Alegre, Santa Rita, Pelotas e São José do Norte. Nessa época, mais de 100 pessoas eram membros da Igreja Episcopal Brasileira e o bispo Peterkin ordenou os primeiros ministros locais.
Brande foi ordenado diácono, em 28 de agosto de 1893, na Capela do Salvador, em Rio Grande, diante de uma congregação de 300 pessoas. Em 1º de setembro do mesmo ano foi ordenado Antônio Machado Fraga. E ainda em setembro de 1893, foram examinados e também ordenados diáconos os candidatos Américo Vespúcio Cabral e Boaventura de Souza.
Peterkin defendia uma igreja nacional independente e percebia a necessidade de construção de igrejas, pois os prédios alugados eram caros e logo se tornavam pequenos. Da sua visita ao Brasil resultou a ordenação de quatro diáconos; 142 pessoas confirmadas; três centros irradiadores de missão (Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande); tradução do Livro de Oração Comum (LOC) e de literatura cristã; nomeação de uma comissão permanente e missionária; e adoção de uma declaração de princípios.
Porto Alegre tinha, na época, 60 mil habitantes e intensa atividade Católica Romana. Pelotas contava com uma população de 30 mil e Rio Grande 15 mil habitantes. Vale ressaltar que naquela época, uma viagem de Porto Alegre a Viamão, de carroagem, levava cerca de três horas.
Em 1897, o bispo inglês Waite H. Stirling, que residia em Buenos Aires, veio ao Brasil. Em 13 de maio daquele ano, os revdos. Brande, Fraga e Cabral foram ordenados ao presbiterado. Boaventura, por problemas de comportamento, foi afastado das atividades clericais e partiu com sua família para Minas Gerais.
A visita de Stirling foi de apenas 14 dias (de 6 a 20 de maio), pois ele seguia para a 4ª Conferência de Lamberth, marcada para julho de 1897. Em função da visita do bispo, a Igreja Brasileira foi, pela primeira vez, mencionada na Conferência.


5 CONVOCAÇÕES

O primeiro concílio, que era chamado de Convocação, ocorreu em Porto Alegre, no ano de 1892. A reunião não teve caráter oficial. Canonicamente, portanto, a 1ª Convocação aconteceu em Rio Grande, de 3 a 8 de março de 1894. Ainda sem a presença de leigos, o clero (Morris, Kinsolving, Meem, Cabral, Boaventura, Fraga e Brande), entre outros assuntos, discutiu o trabalho animador, iniciado pelo Revdo. Cabral, em São Leopoldo, cujos cultos eram realizados na Igreja Protestante.
De 22 a 27 de abril de 1895, na Capela da Trindade, em Porto Alegre, aconteceu a 2ª Convocação, desta vez com a presença de leigos. Neste concílio foi discutida e aprovada a primeira constituição e os primeiros cânones da Igreja Protestante Episcopal no Sul dos Estados Unidos do Brasil. Tratou-se também da necessidade de sagração de um bispo.
A Capela do Redentor, em Pelotas, de 15 a 18 de janeiro de 1896, reuniu a 3ª Convocação, presidida pelo Revdo. Brown. Estavam presentes os quatro presbíteros, os três diáconos e representantes leigos. Eles trataram sobre a instrução e preparação dos diáconos, a necessidade de nova visita episcopal e os limites paroquiais, pois os metodistas queriam que os episcopais só atuassem no sul do Estado.
O pedido de eleição de um bispo foi negado pela Igreja Americana, o que só foi possível dois anos mais tarde, em 1898, em uma convocação extraordinária. Também em convocação extraordinária, foi aprovado o LOC que Brown traduziu e adaptou durante dois anos. Essa primeira versão do LOC brasileiro foi usada até 1930.
A preocupação com a formação do ministério era latente desde o começo da Igreja Brasileira. Na 4ª Convocação, em 1897, quando passamos a ter a denominação de Igreja Protestante Episcopal dos Estados Unidos do Brasil, discutiu-se a necessidade da criação de um seminário teológico. No ano seguinte, na 5ª Convocação, foi criado oficialmente o Seminário Teológico que entrou em funcionamento em 1903, em Rio Grande.


6 PRIMEIRO BISPO

Uma convocação extraordinária foi realizada nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho de 1898, na Capela do Bom Pastor, em Porto Alegre, elegendo o missionário Lucien Lee Kinsolving o primeiro bispo.
Sob o episcopado de Kinsolving, o trabalho prosperava e, no ano de 1907, a Igreja Brasileira foi reconhecida como Distrito Missionário. Já tínhamos aqui, 13 clérigos, 1.366 membros comungantes, 1.046 alunos na Escola Dominical e congregações em Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas, Viamão, Santa Rita, São José do Norte, Santa Maria, Bagé, Jaguarão, São Gabriel, São Leopoldo, Florida (Cangussú) e Santa Helena (Pelotas).
Em Montenegro, o trabalho iniciou em 1909, com o Revdo. Antônio Machado Fraga. No ano seguinte, era construída a Igreja em São Leopoldo. No distrito de Casinhas, interior de São Francisco de Paula, também foi construído um templo, em 1927.
No primeiro quarto de século do anglicanismo no Brasil, o trabalho prosperou muito, conforme o quadro abaixo:

Ano
1898
1925
Bispos
-
2
Clérigos
7
28
Membros comungantes
443
2.762
Membros batizados
50
13.535
Membros confirmados
448
4.997
Alunos da Escola Dominical
378
2.537
Escolas Dominicais
7
46
Escolas Diárias
1
5
Professores da Escola Dominical
27
200
Templos e capelas
9
25


7 DIOCESE MERIDIONAL

Em 1950, o Distrito Missionário foi dividido em três dioceses: Meridional, Sul Ocidental e Central. Seus primeiros bispos foram, respectivamente, Athalício Theodoro Pithan, Egmont Machado Krischke e Louis Chester Melcher.
Por ter sido o Sul do Brasil o ponto de início dos trabalhos da Igreja Brasileira, coube à Diocese Meridional, a área mais desenvolvida, na época, do Distrito Missionário.
Ao assumir a diocese, em 1950, o bispo Pithan nomeou o Revdo. Orlando Batista como secretário do bispado e instituiu a Paróquia da Trindade, em Porto Alegre, como sede da autoridade eclesial. O Revdo. Jessé Krebs Appel foi escolhido como Deão.
Pithan dividiu a diocese, nomeando George Upton Krischke arcediago de Porto Alegre; Mário Bohrer Weber arcediago do Nordeste, que abrangia São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul e Montenegro; Nataniel Duval da Silva arcediago da Zona Sul (Rio Grande, Pelotas, Cangussú e Santa Helena); e Nadir Simões Mattos arcediago missionário, que atenderia São Francisco de Paula, Gravataí e Santo Antônio da Patrulha.
A área geográfica da diocese era grande, mas isso não era problema para o clero que, aliás, buscava sempre novas fronteiras. Foi assim que, no início da década de 50, o Revdo. Henrique Todt Jr. visitou uma comunidade evangélica de Araranguá, no Sul de Santa Catarina. Em 1952, o Revdo. Arthur Rodolfo Kratz era transferido para lá a fim de dar andamento ao trabalho.
Em Santo Antônio da Patrulha, onde Américo Vespúcio havia pregado muitas vezes e já existiam várias missões, o Revdo. Nadir iniciou os cultos regulares. Também na década de 1950, o veterano catequista Oliveiros Marcelino Teixeira, que havia trabalhado muitos anos em Casinhas, transferiu-se para Caxias do Sul. Sob orientação do Revdo. Mário Webber, iniciava-se o trabalho da Paróquia da Virgem Maria. E, no fim daquela mesma década, o Revdo. Weber também liderou os trabalhos que deram início às atividades em Novo Hamburgo.
O bispo Pithan aposentou-se em 1956, sendo sucedido por D. Egmont Machado Krischke que transferiu-se de Santa Maria para Porto Alegre. Em 1965, a Igreja Brasileira transformou-se na 19ª Província da Comunhão Anglicana e Krischke foi eleito o seu primeiro bispo primaz.
Krischke foi um grande incentivador do ministério leigo e dizia que as verdadeiras batalhas da fé não se davam no interior do templo, nos concílios ou nas assembléias paroquiais, mas nos escritórios, nas fábricas, nos lares, nos centros sociais, no mundo lá fora. Por isso, era preciso preparar os leigos para tirar a Igreja de dentro das quatro paredes. Krischke adoeceu em 1970 e faleceu no ano seguinte. O Revdo. Arthur Rodolfo Kratz foi eleito como novo bispo diocesano.
Iniciava-se, junto com o episcopado de Kratz, um período de dificuldades financeiras. Muitos clérigos tiveram de buscar sustento fora da igreja, diminuindo consideravelmente o tempo a ser dedicado para suas comunidades. Ainda se não bastasse esse problema, logo que D. Kratz assumiu, houve uma infiltração carismática na diocese. O bispo chegou a apoiar o movimento, mas não queria que esse ultrapassasse os limites naturais da doutrina, da liturgia e da hierarquia da Igreja.
Todos esses limites, infelizmente, foram desrespeitados e o que se viu foram cismas em algumas paróquias, como na Redentor (Porto Alegre) e Todos os Santos (Novo Hamburgo). A infiltração pentecostal também freou ainda mais as atividades da juventude que já se ressentia dos reflexos do Regime Militar que alienara e silenciara a mocidade desde 1964.
Mesmo diante dessas dificuldades, Kratz, o primeiro bispo eleito sem autorização da Igreja Americana, foi zeloso e preocupado com o laicato. Desenvolveu o Programa de Leitores Leigos que em 1970 tinha 48 credenciados, chegou a ter 122 em 1978, caindo para 45 em 1982. Também foi por iniciativa de Kratz que foi criado, em 1977, o Seminário Diocesano, com a participação de três alunos, dois dos quais hoje são bispos da igreja: Renato Raatz, diocesano de Pelotas, e Naudal Alves Gomes, diocesano de Curitiba. Seu zelo pelo Seminário foi tamanho que, em 1984 o Sínodo o transformou em Seminário Nacional, para servir toda a Igreja.
Abertamente contrário a ordenação feminina, Kratz, que em 1972 foi eleito bispo primaz do Brasil, criou a ordem feminina Comunidade de Santa Maria. Nilde Cunha (a Irmã Maria) foi a primeira e única freira da IEAB. Colega de Renato Raatz e Naudal Alves Gomes no seminário, anos mais tarde a Irmã Maria viria a ser ordenada presbítera, pelo bispo Prado, na Diocese de Pelotas.
D. Arhur Rodolfo Kratz faleceu 1984 e foi sucedido por Claudio Vinicius de Senna Gastal que havia sido eleito em 1983 para ser bispo coadjutor. D. Gastal enfrentaria em seu episcopado as muitas dificuldades financeiras que surgiram a partir de 1983 com o término do plano decenal (Cessou a entrada de recursos estrangeiros para custear as despesas da Igreja). A emancipação financeira resultou na baixa remuneração do clero, falta de ministros e falta de recursos para a formação teológica.
Uma das realizações do bispo Gastal foi o desmembramento da Diocese Meridional, resultando na criação da Diocese Anglicana de Pelotas. A criação da nova diocese foi aprovada pelo Sínodo em 1988.
Em 1997, o então Revdo. Orlando Santos de Oliveira foi eleito bispo coadjutor da Diocese Meridional. No ano seguinte, com a aposentadoria de Gastal, D. Orlando tornou-se bispo diocesano. De 2003 até 2006, foi o primaz da Igreja Brasileira.
Hoje, a Diocese Meridional abrange a parte oriental do Rio Grande do Sul, onde estão localizadas a maioria das suas comunidades, e Sul de Santa Catarina. Segundo seu site oficial, a DM possui por volta de 13.000 membros batizados, espalhados por 16 paróquias, dez missões e cinco pontos missionários. Para atender essa demanda, D. Orlando conta com um clero composto por 20 presbíteros, sendo que um está cursando mestrado nos Estados Unidos (Revdo. Dessórdi Peres Leite) e o outro ocupa o cargo de Secretário Geral da IEAB (Revdo. Francisco de Assis da Silva). A diocese também conta com nove clérigos aposentados, cinco postulantes, quatro seminaristas, além das lideranças leigas espalhadas por todas as paróquias e missões.
Entre as prioridades diocesanas estão a formação teológica (preparar o clero e as lideranças dentro dos conceitos e práticas da Missão); desenvolver uma consciência diocesana de partilha de informações e atividades, promovendo assim uma melhor divulgação da Boa Nova de Jesus Cristo que se realiza nas comunidades; organizar uma frutífera pastoral entre os jovens, em seus diversos e diferentes níveis; desenvolver estratégia de crescimento diocesano. Um grande desafio para toda a diocese tem sido contornar as dificuldades financeiras e o grave problema gerado com a “falência” de instituições como o Colégio Cruzeiro do Sul.


8 CONCLUSÃO

Ao pesquisar e meditar sobre a Diocese Meridional, ouvindo alguns testemunhos de pessoas que presenciaram os primeiros passos da Igreja Anglicana no Brasil, e comparando alguns dados e situações, chego a conclusão que precisamos nos revestir do espírito desprendido e corajoso dos missionários e dos leigos daqueles tempos. Não foram os dólares americanos que fizeram frutificar o trabalho da IEAB. Eles, certamente, ajudaram, mas se os missionários Morris e Kinsolving, os catequistas Cabral e Brande, e outra meia-dúzia de leigos que nunca saíram do anonimato não tivessem se desdobrado e, principalmente, aceitado o compromisso de semear a Boa Nova nesta terra, os recursos financeiros de nada adiantariam.
A IEAB cresceu nos seus primeiros 50 anos, depois passou por um período de estagnação e, com as dificuldades financeiras, parece que perdemos o vigor. Nossos líderes espirituais, na busca do sustento de suas famílias, talvez tenham descuidado de “seus rebanhos” e aos poucos, nossas comunidades foram esvaziando.
Iniciativas como a do Revdo. Mário Weber, no início da década de 1960, começando o trabalho da Igreja numa comunidade como Novo Hamburgo, contando com apenas quatro ou cinco eclesianos, ou leigos transportando um harmônio no lombo de um burro, para abrilhantar uma Celebração Eucarística lá no distrito de Lagoas, no interior de São Francisco de Paula, foram rareando nas últimas décadas. E o que dizer sobre aqueles leigos que andavam 40 ou 50 quilômetros a cavalo, para buscar um reverendo num terminal de trem?
Os tempos eram outros, não podemos negar. Mas a disposição, a determinação e a entrega ao serviço da Igreja, tanto de clérigos quanto de leigos, também me parecem eram diferentes do que se percebe atualmente. Entendo que uma retomada de consciência da responsabilidade com o futuro da Diocese Meridional e de toda a IEAB seja fundamental para que tenhamos dias melhores. Assim, aqueles que nos sucederão nessa caminhada poderão, como nós, cantar a todo pulmão: “Oh! Fé que vem dos nossos pais...”  


9 REFERÊNCIAS

KICKHÖFEL, Oswaldo; Notas para uma História da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Porto Alegre: Editora Gráfica Metrópole, 1995.

KRISCHKE, George Upton; História da Igreja Episcopal Brasileira, Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1949.