terça-feira, 21 de maio de 2013

O homem e o meio ambiente



Texto elaborado para a Disciplina de Teologia e Metodologia Pastoral - Seminário Teológico Dom Egmont Machado Krischke – SETEK


Fernando da Silva Santos
Prof. Revdo. Hermes Daniel Rodriguez
Seminário Teológico Dom Egmont Machado Krischke – SETEK
Teologia e Metodologia Pastoral
19/11/2008

RESUMO


O ambiente em que vivemos nos foi dado por Deus. Conservá-lo não é apenas um dever, em respeito ao presente precioso do Criador, mas uma necessidade para a preservação da própria espécie humana. Ao longo dos séculos e dos milênios, o homem que entendera ter autoridade para dominar o ambiente, achou-se também no direito de transformá-lo e hoje percebemos que estamos destruindo o planeta. A ganância e a ânsia de dominar tudo, inclusive seus semelhantes, estão levando a espécie humana à sua própria destruição. Cabe a nós, cristãos, engajarmo-nos na luta por uma tomada de consciência sobre a necessidade urgente de darmos um basta na devastação do meio ambiente.

Palavras-chave: Criação; Devastação; Consciência.


1 INTRODUÇÃO

Os dois primeiros capítulos do livro do Gênesis narram a criação do mundo e da espécie humana, procurando mostrar o lugar e a importância do homem e da mulher dentro do projeto de Deus. Os seres humanos são o ponto mais alto e o centro de toda a criação, dotados de criatividade, da palavra e da liberdade. Vale ressaltar que a narrativa da criação, encontrada no primeiro livro da Bíblia, não é um tratado científico, mas um poema que contempla o universo como criatura de Deus.
“E Deus os abençoou e lhes disse: Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra; dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra.” Assim está escrito no versículo 28 do primeiro capítulo de Gênesis. Percebe-se que os sacerdotes, no tempo do exílio da Babilônia, ao escreverem este texto, cerca de 600 anos a. C. já tinham noção de que a espécie humana era a única com capacidade para alterar o ambiente em que vivemos. O que certamente os escritores de Gênesis não imaginavam é que fossemos capazes de provocar tantos estragos na natureza, a ponto de chegarmos ao século XXI com a séria ameaça de destruição total do planeta.
Além dessa capacidade destrutiva do ambiente, algo pode ser ainda pior em termos de comportamento. Mesmo dotado de inteligência superior a todas as outras espécies, o homem é predador do próprio homem. Embora Deus tenha providenciado tudo o que era necessário para a sobrevivência humana (conforme Gênesis 1:29), os homens foram, cada vez mais, se apropriando do que não era seu. Os bens oferecidos por Deus ficaram nas mãos de uns poucos, enquanto a maioria das pessoas vive privada do alimento, da saúde e da moradia.
2 TOMADA DE CONSCIÊNCIA

A situação do meio ambiente nos desafia a preservar os recursos naturais e, ao mesmo tempo, possibilitar um desenvolvimento social mais justo, permitindo que as sociedades humanas atinjam uma melhor qualidade de vida em todos os aspectos. A necessidade de consolidar novos modelos de desenvolvimento sustentável exige a construção de alternativas de utilização dos recursos, orientada por uma racionalidade ambiental e uma ética da solidariedade.
A nossa sociedade precisa conscientizar-se de que o modelo vigente de crescimento tem afetado nosso planeta muito mais do que o desejado. A destruição da natureza, através da contaminação e degradação dos ecossistemas cresce em um ritmo acelerado, motivo pelo qual torna-se necessário reduzir o impacto ambiental para a obtenção de um desenvolvimento ecologicamente equilibrado a curto prazo para todo o planeta.
Na busca da preservação ambiental, criamos normas e leis que regem a forma de agir com o meio ambiente. Estas leis nem sempre são obedecidas, mas são instrumentos importantes nessa tomada de consciência a fim de manter os recursos e ambientes naturais remanescentes. A legislação brasileira avançou nos últimos anos. O Brasil expôs ao mundo a importância de se conservar os recursos bióticos e naturais presentes nas florestas para a manutenção da qualidade ambiental do planeta.
No momento, o assunto em pauta é a criação de mecanismos fiscais que busquem equilibrar a delicada balança do consumo de recursos naturais que se encontra extremamente favorável para países desenvolvidos.


3 RECURSOS FINANCEIROS

As autoridades mundiais, diante da pressão da sociedade, vêm adotando medidas e destinando recursos para as ações em favor do meio ambiente. No ano de 2000, líderes de 191 nações, reunidos em Nova York, definiram os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, com um pacto para tornar o mundo mais justo até 2015. As metas são acabar com a fome e a miséria; oferecer educação básica e de qualidade para todos; promover a igualdade entre sexos e a valorização da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde das gestantes; combater a aids, a malária e outras doenças; aumentar a qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente; e trabalhar em conjunto pelo desenvolvimento.
Recentemente, foi anunciado que as ações para o cumprimento destes objetivos terão o aporte de US$ 16 bilhões de governos, fundações e da sociedade civil. O anúncio foi feito em Nova York, pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, ao final de reunião sobre o assunto, conforme noticiado pela Agência Radiobras. O valor supera as expectativas da ONU e demonstra a solidariedade global. Segundo o secretário-geral, as ações para garantir a segurança alimentar receberão US$ 1,6 bilhão, US$ 4,5 bilhões vão para a educação e US$ 3 bilhões, para o combate à malária.
Durante o debate na ONU, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, representou o Brasil em uma mesa-redonda sobre fome e pobreza. Ele ressaltou que as empresas não precisam sacrificar o lucro para ter responsabilidade social. “No mundo de hoje, lucrar e melhorar a vida dos pobres e famintos não são atividades mutuamente excludentes. Crescimento e distribuição de renda mais justa são os dois lados da mesma moeda.”


4 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Recentemente, ainda segundo a Radiobras, especialistas de cerca de 30 países, reunidos no Rio de Janeiro, discutiram os esforços que vêm sendo feitos em termos de monitoramento e avaliação de capacitação em países em desenvolvimento para o combate às mudanças climáticas. O relatório final do encontro será encaminhado à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). O documento vai para análise na 14ª Conferência das Partes (COP 14) em Poznán, na Polônia, que ocorrerá de 1º a 12 de dezembro deste ano, junto com o 4º Encontro das Partes do Protocolo de Quioto (MOP-4).
A Convenção Mundial do Clima estabelece uma série de assuntos relacionados à mudança do clima que todos os países signatários do documento têm que implementar. A questão da capacitação é um dos temas mais importantes para os países em desenvolvimento, sobretudo aqueles mais pobres. E essa capacitação envolve não só recursos das nações desenvolvidas para financiamento às ações de combate às mudanças climáticas nos países emergentes, mas também transferência de tecnologia, entre outros itens relevantes.
As mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global podem forçar a migração de culturas agrícolas típicas de determinadas regiões do Brasil. O Alerta do especialista em mudanças climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos  Nobre, ao falar no Painel Intergovernamental da ONU para a Mudança Climática (IPCC). "O Brasil é uma potência agrícola, que tem um potencial muito grande a ser explorado, talvez o maior do mundo. E as mudanças climáticas diretamente afetam a agricultura", disse Nobre a jornalistas após apresentação na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em Brasília.
Além da agricultura, segundo o pesquisador, a saúde da população também deve ser impactada pelas mudanças no clima. "Os estados mais frios, que não tem um problema muito grave ainda de doenças transmitidas por vetores - insetos como os de malária, dengue e outras -, vão ter um clima adequado em 50 anos", comentou.


5 MORADIA E URBANIZAÇÃO

A ocupação da terra também precisa ser discutida e avaliada. O Rio de Janeiro será palco em 2010 das discussões do 5° Fórum Urbano Mundial, evento da ONU, que promete avaliar e propor políticas públicas para os problemas decorrentes de moradia e urbanização. O anúncio foi feito pelo ministro das Cidades, Marcio Fortes, pelo governador do estado, Sérgio Cabral, e pelo prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes. A divulgação oficial será feita pelo governo federal, durante a quarta edição do Fórum, na cidade de Nanjing, na China.
“As pessoas pensam que infraestrutura é só (a construção de) casas. Mas não é só isso. È a construção de lares. As pessoas têm um lar quando têm parede, mas, ao lado dela, infraestrutura de água, esgoto, drenagem, pavimentação, transporte passando na porta...”, disse o ministro Fortes. De acordo com ele, na edição do Fórum no Rio, que se chamará Cidade Cidadã, haverá a integração de temas da urbanização aos problemas das comunidades marginalizadas pela violência e vulneráveis socialmente.

Apenas 46,77% da população brasileira têm acesso ao esgoto sanitário. As mais prejudicadas pela falta de saneamento são as crianças de 1 a 6 anos. Esta é a conclusão da pesquisa Trata Brasil, organizada pelo instituto que leva o mesmo nome e pela Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada no Ministério das Cidades, em Brasília. A pesquisa revela que a taxa de mortalidade de crianças nesta faixa etária, de 1995 a 1999, era de 3,75% entre a população que não possuía acesso à rede de esgoto, e de 2,35%, entre a população que possuía. Entre 2001 e 2006, os números são de 2,89% e 2,25%, respectivamente.
Um agravante para essa situação é que a taxa de redução da pobreza anda quatro vezes mais rápido do que o acesso ao saneamento. Ou seja, nesse ritmo, seriam necessários mais 56 anos para que a meta do milênio - de reduzir pela metade o déficit do saneamento - seja atingida. Há 14 anos, o esgotamento sanitário atingia apenas 36,02% da população - o crescimento nesse período foi de cerca de 10%.


6 DOENÇAS DA POBREZA

Os brasileiros pretos ou pardos são as maiores vítimas de doenças ligadas a condição de vida precária, chamadas também de doenças da pobreza. A informação consta do Relatório Anual das Desigualdades Raciais do Brasil, divulgado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base na Pnad 2007 e nas informações mais recentes do Ministério da Saúde. A pesquisa mostra que os pretos e pardos são a maioria absoluta dos mortos por malária (60,6%), por hanseníase (58,3%), por leishimaniose (58,1%), por esquistossomose (55,5%) e por diarréia (50%).
De acordo com o coordenador do estudo, professor Marcelo Paixão, a incidência dessas doenças na população preta e parda comprova a desigualdade no acesso a serviços básicos. “Significa que vivem em condições, principalmente os locais de moradia, mas também os demais padrões, que os levam a um nível de exposição a doenças típicas da falta de saneamento básico e de vacinação, por exemplo. Enfim, daqueles que têm as piores condições econômicas”.
O combate à pobreza e à concentração de renda depende do crescimento econômico. Entretanto, esse crescimento não é uma condição suficiente para a geração de postos de trabalho de qualidade, avalia o diretor do escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, Renato Baumann. Durante o lançamento do estudo Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente - A Experiência Brasileira Recente, ele destacou que condições de trabalho decentes contribuem para o bem-estar social e representam um dos indicadores do desenvolvimento humano.
Kim Buldoc, representante-residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil, afirma, entretanto, que o mundo se mostra cada vez mais desigual e que as estatísticas “camuflam” a miséria e a desigualdade. Para ela, o objetivo do estudo é posicionar o ser humano no centro da análise do desenvolvimento e garantir que a economia apresente ações efetivas na vida das pessoas, revelando “uma face humana” do mercado de trabalho.
Um dos destaques negativos da pesquisa, segundo Kim, são as altas taxas de desemprego, sobretudo entre mulheres, negros e jovens, “aumentando as desigualdades e reduzindo as escolhas”. Ela acredita que o estudo demonstra a necessidade de adaptar as políticas econômicas a políticas públicas de qualidade, uma vez que o trabalho deve ser considerado “o meio mais sustentável para uma vida digna e produtiva”.

7 BONS EXEMPLOS

Há muitos bons exemplos de ações voltadas à valorização da vida e à preservação do meio ambiente. Podemos citar o Projeto Criança Cidadã, desenvolvido no Distrito Federal, e as denúncias de religiosas que trabalharam com Dorothy Stang, a missionária norte-americana morta no Pará, em 2005.
Crianças de escolas públicas e particulares do Distrito Federal e entorno participaram de uma série de atividades sobre cidadania, ética e preservação do meio ambiente. A iniciativa é uma estratégia de prevenção à corrupção e faz parte do projeto Criança Cidadã, desenvolvido pela Controladoria-Geral da União (CGU) em parceria com a ONU, o Centro Gestor e Operacional de Sistemas de Proteção da Amazônia (Censipam) e o Programa Escolas Irmãs, ligado à Presidência da República. A oficina de teatro foi transmitida, por videoconferência, para crianças de Manaus, Porto Velho e Belém por meio das unidades do Censipam de cada estado. Em outras oficinas, os alunos puderam acessar o site da CGU (www.cgu.gov.br/portalzinho) que contém informações sobre cidadania e assuntos afins na linguagem da criançada.
As religiosas Rebeca Spires e Julia Depweg, que trabalharam com a missionária norte-americana Dorothy Stang, no Pará, por três décadas, se reuniram, em Brasília, com o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Elas denunciaram a impunidade e a manipulação judicial no caso da missionária, assassinada a tiros em Anapu, no Pará, em 12 de fevereiro de 2005. As irmãs são personagens de um documentário sobre a morte de Dorothy Stang, que atuava na defesa da Floresta Amazônica e dos agricultores sem terra e integrava o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) no município de Anapu. A missionária é conhecida mundialmente na luta contra o desmatamento e a grilagem de terras no Brasil. O filme foi lançado no Festival Internacional de Cinema de Brasília.


5 CONCLUSÃO

Com esse breve apanhado de notícias que são veiculadas diariamente nos meios de comunicação, podemos perceber a gravidade do problema do meio ambiente, que vai muito além da simples preservação do “verde”. A vida do planeta e a sua necessária recuperação, passa pelo esforço e tomada de consciência de toda a sociedade, a começar por ações que promovam a dignidade das pessoas. Se há comida abundante em algumas mesas, não se justifica a miséria de tanta gente que não tem nada para comer. Se avançamos tão espetacularmente na medicina, como explicar a morte de tantas crianças por doenças que já deveriam ter sido erradicas de todo o planeta? Diante de avanços tecnológicos fantásticos, como admitir que crianças ainda “brinquem” em meio ao esgoto a céu aberto? E nós, cristãos, que diariamente reafirmamos que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos, o que temos feito pelo meio ambiente? Nas nossas paróquias, nas nossas escolas, no nosso bairro e na nossa cidade, precisamos discutir essas questões, ainda que, aparentemente, não nos falte nada. O problema do desmatamento da Amazônia, a fome nos países africanos, a poluição dos grandes centros urbanos, o trabalho escravo nas lavouras do centro do país, tudo isso diz respeito a cada um de nós e como cristão, temos obrigação de arregaçar as mangas e ajudar na luta por mudanças.

Nenhum comentário: