Texto elaborado para a Disciplina de Teologia e Metodologia Pastoral - Seminário Teológico
Dom Egmont Machado Krischke – SETEK
Fernando da Silva
Santos
Prof. Revdo.
Hermes Daniel Rodriguez
Seminário Teológico
Dom Egmont Machado Krischke – SETEK
Teologia e
Metodologia Pastoral
19/11/2008
RESUMO
O ambiente em que vivemos nos foi dado por Deus.
Conservá-lo não é apenas um dever, em respeito ao presente precioso do Criador,
mas uma necessidade para a preservação da própria espécie humana. Ao longo dos
séculos e dos milênios, o homem que entendera ter autoridade para dominar o
ambiente, achou-se também no direito de transformá-lo e hoje percebemos que
estamos destruindo o planeta. A ganância e a ânsia de dominar tudo, inclusive
seus semelhantes, estão levando a espécie humana à sua própria destruição. Cabe
a nós, cristãos, engajarmo-nos na luta por uma tomada de consciência sobre a
necessidade urgente de darmos um basta na devastação do meio ambiente.
Palavras-chave: Criação; Devastação; Consciência.
1 INTRODUÇÃO
Os dois primeiros capítulos do
livro do Gênesis narram a criação do mundo e da espécie humana, procurando
mostrar o lugar e a importância do homem e da mulher dentro do projeto de Deus.
Os seres humanos são o ponto mais alto e o centro de toda a criação, dotados de
criatividade, da palavra e da liberdade. Vale ressaltar que a narrativa da
criação, encontrada no primeiro livro da Bíblia, não é um tratado científico,
mas um poema que contempla o universo como criatura de Deus.
“E Deus os abençoou e lhes disse:
Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra; dominem os peixes
do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra.” Assim
está escrito no versículo 28 do primeiro capítulo de Gênesis. Percebe-se que os
sacerdotes, no tempo do exílio da Babilônia, ao escreverem este texto, cerca de
600 anos a. C. já tinham noção de que a espécie humana era a única com
capacidade para alterar o ambiente em que vivemos. O que certamente os
escritores de Gênesis não imaginavam é que fossemos capazes de provocar tantos
estragos na natureza, a ponto de chegarmos ao século XXI com a séria ameaça de
destruição total do planeta.
Além dessa capacidade destrutiva
do ambiente, algo pode ser ainda pior em termos de comportamento. Mesmo dotado
de inteligência superior a todas as outras espécies, o homem é predador do
próprio homem. Embora Deus tenha providenciado tudo o que era necessário para a
sobrevivência humana (conforme Gênesis 1:29), os homens foram, cada vez mais,
se apropriando do que não era seu. Os bens oferecidos por Deus ficaram nas mãos
de uns poucos, enquanto a maioria das pessoas vive privada do alimento, da
saúde e da moradia.
2 TOMADA DE CONSCIÊNCIA
A situação do meio ambiente nos
desafia a preservar os recursos naturais e, ao mesmo tempo, possibilitar um
desenvolvimento social mais justo, permitindo que as sociedades humanas atinjam
uma melhor qualidade de vida em todos os aspectos. A necessidade de consolidar
novos modelos de desenvolvimento sustentável exige a construção de alternativas
de utilização dos recursos, orientada por uma racionalidade ambiental e uma
ética da solidariedade.
A nossa sociedade precisa conscientizar-se
de que o modelo vigente de crescimento tem afetado nosso planeta muito mais do
que o desejado. A destruição da natureza, através da contaminação e degradação
dos ecossistemas cresce em um ritmo acelerado, motivo pelo qual torna-se
necessário reduzir o impacto ambiental para a obtenção de um desenvolvimento
ecologicamente equilibrado a curto prazo para todo o planeta.
Na busca da preservação
ambiental, criamos normas e leis que regem a forma de agir com o meio ambiente.
Estas leis nem sempre são obedecidas, mas são instrumentos importantes nessa
tomada de consciência a fim de manter os recursos e ambientes naturais
remanescentes. A legislação brasileira avançou nos últimos anos. O Brasil expôs
ao mundo a importância de se conservar os recursos bióticos e naturais
presentes nas florestas para a manutenção da qualidade ambiental do planeta.
No momento, o assunto em pauta é
a criação de mecanismos fiscais que busquem equilibrar a delicada balança do
consumo de recursos naturais que se encontra extremamente favorável para países
desenvolvidos.
3 RECURSOS FINANCEIROS
As autoridades mundiais, diante
da pressão da sociedade, vêm adotando medidas e destinando recursos para as
ações em favor do meio ambiente. No ano de 2000, líderes de 191 nações,
reunidos em Nova York, definiram os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio,
com um pacto para tornar o mundo mais justo até 2015. As metas são acabar com a
fome e a miséria; oferecer educação básica e de qualidade para todos; promover
a igualdade entre sexos e a valorização da mulher; reduzir a mortalidade
infantil; melhorar a saúde das gestantes; combater a aids, a malária e outras
doenças; aumentar a qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente; e
trabalhar em conjunto pelo desenvolvimento.
Recentemente, foi anunciado que
as ações para o cumprimento destes objetivos terão o aporte de US$ 16 bilhões
de governos, fundações e da sociedade civil. O anúncio foi feito em Nova York, pelo
secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, ao final
de reunião sobre o assunto, conforme noticiado pela Agência Radiobras. O valor
supera as expectativas da ONU e demonstra a solidariedade global. Segundo o
secretário-geral, as ações para garantir a segurança alimentar receberão US$
1,6 bilhão, US$ 4,5 bilhões vão para a educação e US$ 3 bilhões, para o combate
à malária.
Durante o debate na ONU, o
presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, representou o Brasil em uma
mesa-redonda sobre fome e pobreza. Ele ressaltou que as empresas não precisam
sacrificar o lucro para ter responsabilidade social. “No mundo de hoje, lucrar
e melhorar a vida dos pobres e famintos não são atividades mutuamente
excludentes. Crescimento e distribuição de renda mais justa são os dois lados
da mesma moeda.”
4 MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Recentemente, ainda segundo a
Radiobras, especialistas de cerca de 30 países, reunidos no Rio de Janeiro,
discutiram os esforços que vêm sendo feitos em termos de monitoramento e
avaliação de capacitação em países em desenvolvimento para o combate às
mudanças climáticas. O relatório final do encontro será encaminhado à
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). O documento
vai para análise na 14ª Conferência das Partes (COP 14) em Poznán, na Polônia,
que ocorrerá de 1º a 12 de dezembro deste ano, junto com o 4º Encontro das
Partes do Protocolo de Quioto (MOP-4).
A Convenção Mundial do Clima
estabelece uma série de assuntos relacionados à mudança do clima que todos os
países signatários do documento têm que implementar. A questão da capacitação é
um dos temas mais importantes para os países em desenvolvimento, sobretudo
aqueles mais pobres. E essa capacitação envolve não só recursos das nações
desenvolvidas para financiamento às ações de combate às mudanças climáticas nos
países emergentes, mas também transferência de tecnologia, entre outros itens
relevantes.
As mudanças climáticas causadas
pelo aquecimento global podem forçar a migração de culturas agrícolas típicas
de determinadas regiões do Brasil. O Alerta do especialista em mudanças
climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre, ao falar no Painel Intergovernamental
da ONU para a Mudança Climática (IPCC). "O Brasil é uma potência agrícola,
que tem um potencial muito grande a ser explorado, talvez o maior do mundo. E
as mudanças climáticas diretamente afetam a agricultura", disse Nobre a
jornalistas após apresentação na sede do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) em Brasília.
Além da agricultura, segundo o
pesquisador, a saúde da população também deve ser impactada pelas mudanças no
clima. "Os estados mais frios, que não tem um problema muito grave ainda
de doenças transmitidas por vetores - insetos como os de malária, dengue e
outras -, vão ter um clima adequado em 50 anos", comentou.
5 MORADIA E URBANIZAÇÃO
A ocupação da terra também
precisa ser discutida e avaliada. O Rio de Janeiro será palco em 2010 das
discussões do 5° Fórum Urbano Mundial, evento da ONU, que promete avaliar e
propor políticas públicas para os problemas decorrentes de moradia e
urbanização. O anúncio foi feito pelo ministro das Cidades, Marcio Fortes, pelo
governador do estado, Sérgio Cabral, e pelo prefeito eleito do Rio, Eduardo
Paes. A divulgação oficial será feita pelo governo federal, durante a quarta
edição do Fórum, na cidade de Nanjing, na China.
“As pessoas pensam que infraestrutura
é só (a construção de) casas. Mas não é só isso. È a construção de lares. As
pessoas têm um lar quando têm parede, mas, ao lado dela, infraestrutura de
água, esgoto, drenagem, pavimentação, transporte passando na porta...”, disse o
ministro Fortes. De acordo com ele, na edição do Fórum no Rio, que se chamará
Cidade Cidadã, haverá a integração de temas da urbanização aos problemas das
comunidades marginalizadas pela violência e vulneráveis socialmente.
Apenas 46,77% da população
brasileira têm acesso ao esgoto sanitário. As mais prejudicadas pela falta de
saneamento são as crianças de 1 a 6 anos. Esta é a conclusão da pesquisa Trata
Brasil, organizada pelo instituto que leva o mesmo nome e pela Fundação Getulio
Vargas (FGV), divulgada no Ministério das Cidades, em Brasília. A pesquisa
revela que a taxa de mortalidade de crianças nesta faixa etária, de 1995 a
1999, era de 3,75% entre a população que não possuía acesso à rede de esgoto, e
de 2,35%, entre a população que possuía. Entre 2001 e 2006, os números são de
2,89% e 2,25%, respectivamente.
Um agravante para essa situação é
que a taxa de redução da pobreza anda quatro vezes mais rápido do que o acesso
ao saneamento. Ou seja, nesse ritmo, seriam necessários mais 56 anos para que a
meta do milênio - de reduzir pela metade o déficit do saneamento - seja
atingida. Há 14 anos, o esgotamento sanitário atingia apenas 36,02% da
população - o crescimento nesse período foi de cerca de 10%.
6 DOENÇAS DA POBREZA
Os brasileiros pretos ou pardos
são as maiores vítimas de doenças ligadas a condição de vida precária, chamadas
também de doenças da pobreza. A informação consta do Relatório Anual das
Desigualdades Raciais do Brasil, divulgado pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), com base na Pnad 2007 e nas informações mais recentes do
Ministério da Saúde. A pesquisa mostra que os pretos e pardos são a maioria
absoluta dos mortos por malária (60,6%), por hanseníase (58,3%), por
leishimaniose (58,1%), por esquistossomose (55,5%) e por diarréia (50%).
De acordo com o coordenador do
estudo, professor Marcelo Paixão, a incidência dessas doenças na população
preta e parda comprova a desigualdade no acesso a serviços básicos. “Significa
que vivem em condições, principalmente os locais de moradia, mas também os
demais padrões, que os levam a um nível de exposição a doenças típicas da falta
de saneamento básico e de vacinação, por exemplo. Enfim, daqueles que têm as
piores condições econômicas”.
O combate à pobreza e à
concentração de renda depende do crescimento econômico. Entretanto, esse
crescimento não é uma condição suficiente para a geração de postos de trabalho
de qualidade, avalia o diretor do escritório da Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, Renato Baumann. Durante o
lançamento do estudo Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente - A
Experiência Brasileira Recente, ele destacou que condições de trabalho decentes
contribuem para o bem-estar social e representam um dos indicadores do
desenvolvimento humano.
Kim Buldoc,
representante-residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud) no Brasil, afirma, entretanto, que o mundo se mostra cada vez mais
desigual e que as estatísticas “camuflam” a miséria e a desigualdade. Para ela,
o objetivo do estudo é posicionar o ser humano no centro da análise do
desenvolvimento e garantir que a economia apresente ações efetivas na vida das
pessoas, revelando “uma face humana” do mercado de trabalho.
Um dos destaques negativos da
pesquisa, segundo Kim, são as altas taxas de desemprego, sobretudo entre
mulheres, negros e jovens, “aumentando as desigualdades e reduzindo as
escolhas”. Ela acredita que o estudo demonstra a necessidade de adaptar as
políticas econômicas a políticas públicas de qualidade, uma vez que o trabalho
deve ser considerado “o meio mais sustentável para uma vida digna e produtiva”.
7 BONS EXEMPLOS
Há muitos bons exemplos de ações
voltadas à valorização da vida e à preservação do meio ambiente. Podemos citar
o Projeto Criança Cidadã, desenvolvido no Distrito Federal, e as denúncias de
religiosas que trabalharam com Dorothy Stang, a missionária norte-americana
morta no Pará, em 2005.
Crianças de escolas públicas e
particulares do Distrito Federal e entorno participaram de uma série de
atividades sobre cidadania, ética e preservação do meio ambiente. A iniciativa
é uma estratégia de prevenção à corrupção e faz parte do projeto Criança
Cidadã, desenvolvido pela Controladoria-Geral da União (CGU) em parceria com a
ONU, o Centro Gestor e Operacional de Sistemas de Proteção da Amazônia
(Censipam) e o Programa Escolas Irmãs, ligado à Presidência da República. A
oficina de teatro foi transmitida, por videoconferência, para crianças de
Manaus, Porto Velho e Belém por meio das unidades do Censipam de cada estado.
Em outras oficinas, os alunos puderam acessar o site da CGU
(www.cgu.gov.br/portalzinho) que contém informações sobre cidadania e assuntos
afins na linguagem da criançada.
As religiosas Rebeca Spires e
Julia Depweg, que trabalharam com a missionária norte-americana Dorothy Stang,
no Pará, por três décadas, se reuniram, em Brasília, com o ministro Paulo
Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Elas denunciaram a
impunidade e a manipulação judicial no caso da missionária, assassinada a tiros
em Anapu, no Pará, em 12 de fevereiro de 2005. As irmãs são personagens de um
documentário sobre a morte de Dorothy Stang, que atuava na defesa da Floresta
Amazônica e dos agricultores sem terra e integrava o Projeto de Desenvolvimento
Sustentável (PDS) no município de Anapu. A missionária é conhecida mundialmente
na luta contra o desmatamento e a grilagem de terras no Brasil. O filme foi lançado
no Festival Internacional de Cinema de Brasília.
5 CONCLUSÃO
Com esse breve apanhado de
notícias que são veiculadas diariamente nos meios de comunicação, podemos
perceber a gravidade do problema do meio ambiente, que vai muito além da
simples preservação do “verde”. A vida do planeta e a sua necessária
recuperação, passa pelo esforço e tomada de consciência de toda a sociedade, a
começar por ações que promovam a dignidade das pessoas. Se há comida abundante
em algumas mesas, não se justifica a miséria de tanta gente que não tem nada
para comer. Se avançamos tão espetacularmente na medicina, como explicar a
morte de tantas crianças por doenças que já deveriam ter sido erradicas de todo
o planeta? Diante de avanços tecnológicos fantásticos, como admitir que
crianças ainda “brinquem” em meio ao esgoto a céu aberto? E nós, cristãos, que
diariamente reafirmamos que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao nosso
próximo como a nós mesmos, o que temos feito pelo meio ambiente? Nas nossas
paróquias, nas nossas escolas, no nosso bairro e na nossa cidade, precisamos discutir
essas questões, ainda que, aparentemente, não nos falte nada. O problema do
desmatamento da Amazônia, a fome nos países africanos, a poluição dos grandes
centros urbanos, o trabalho escravo nas lavouras do centro do país, tudo isso
diz respeito a cada um de nós e como cristão, temos obrigação de arregaçar as
mangas e ajudar na luta por mudanças.