Quando meu filho caçula, Samuel, disse que praticaria Muay Thai,
eu só não fiquei mais apreensivo por que não sabia exatamente o que era isso. Ele
deu aquela explicação típica de quem tem a sua idade: “É uma luta show de bola!”
Tive de pesquisar para saber que se tratava do boxe tailandês. Uma arte marcial
conhecida como "a arte das oito armas", pois se caracteriza pelo uso dos
punhos, cotovelos, joelhos, canelas e pés.
Poucos dias depois que ele começou os treinamentos, cinco,
às vezas até seis, dias por semana, percebi que se tratava de uma atividade associada
a uma boa preparação física. E o guri botou corpo (se eu não fosse nascido em
São Francisco de Paula até diria que ficou um “homão” bonito e muito forte).
Com tanta correria, do trabalho para os treinos, e com os primeiros hematomas e
chutes nas canelas, imaginei que o Samuca logo desistiria daquele intento. Mas
foi aí que comecei a perceber que estava diante de um sujeito determinado, que,
embora tão jovem, já sabe que as coisas não caem do céu e que para atingir
qualquer objetivo é preciso abrir mão de alguns prazeres e confortos dessa
vida.
Passado mais algum tempo, quando Samuel, uma noite chegou em
casa mancando, com um pé inchado, por causa de um chute no cotovelo de um
colega de treinos, tive a certeza de que ele não tinha puxado a mim, pelo menos
no quesito determinação. A partir dali passei a ver aquela sua atividade com
outros olhos. Além do ótimo condicionamento físico, o Samuca demonstra concentração
e autoconfiança. E fiquei mais tranquilo quando soube que por aqui os
praticantes do Muay Thai não podem usar os cotovelos contra seus adversários (deixam
isso para o futebol).
Cerca de uns 15 dias atrás, Samuel nos contou que neste
sábado faria sua primeira luta. Confesso que me deu aquele nó no estômago, mas
tentei manter a calma. Afinal de contas, desde minha juventude, sempre
concordei com Khalil Gibran que diz: “Vossos filhos não são vossos filhos”. Não
tenho o direito de tomar decisões por meu filho e ele já me deu muitas
demonstrações que merece minha confiança.
Eu mal escondia minha apreensão, no final da tarde deste
sábado, quando soube que a luta foi cancelada e a estreia adiada. Cairo, meu
filho mais velho e incentivador no mano, e eu iríamos assistir a luta. Selma Naiara,
a mãe do nosso lutador, disse que não iria e respeitamos sua decisão. Mãe alguma
deve sentir-se bem vendo um filho lutando.
Devo confessar que não me senti feliz pelo cancelamento da
luta. Afinal, todos nós precisamos enfrentar a ansiedade e o nervosismo da
estreia. Fique tranquilo, meu filho, pois independente do que venha a acontecer
na primeira luta, já és um vencedor pela tua determinação. Aqui em casa,
estamos todos orgulhosos de você.
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