terça-feira, 23 de março de 2021

O dia a dia da pandemia

Nem os mais pessimistas acreditariam, muito menos os negacionistas, se alguém profetizasse, um ano atrás, que em 23 de março de 2021 Campo Bom contabilizaria 161 óbitos e 8.121 pessoas contaminadas pelo coronavírus; que o Estado e, de resto, todo o País, viveriam um colapso na Saúde e uma crise sem precedentes. Naquele momento tínhamos dois casos suspeitos da doença no município e ninguém imaginaria o que estava por vir, mesmo que alguns veículos de comunicação já começassem a mostrar situações críticas na Europa e na Ásia.

No dia 10 de março de 2020, Campo Bom confirmava seu primeiro caso de coronavírus. Era também o primeiro caso registrado no estado do Rio Grande do Sul. Seis dias depois, na manhã de 16 de março, o prefeito Luciano Orsi discutia o assunto com o primeiro escalão de seu governo e determinava o cancelamento de diversos eventos programados no município. Havia o receio de que ações que gerassem aglomerações de pessoas contribuiriam para disseminação do Covid-19, até então sob controle na cidade. “Só temos uma situação mais tranquila em termos de casos porque há uma grande preocupação com a prevenção, por isso, adotamos tais medidas”, explicava o prefeito. Sua atitude era aplaudida por muitos, ignorada por outros tantos, e criticada pelos negacionistas que começavam a mostrar suas caras, tendo como modelo, ninguém mais, ninguém menos que o mandatário maior da nação.

Com dois casos suspeitos da doença, os cuidados da Administração Municipal eram grandes. O prefeito tranquilizava a população dizendo que as medidas eram temporárias, mas preparava um primeiro decreto que tinha como principal objetivo evitar eventos que implicassem em aglomeração de pessoas.

No dia 18 de março de 2020 era emitido um decreto determinando, entre outras coisas, a suspensão das aulas. Suspendia, também, atividades em restaurantes, bares, lancherias, casas noturnas, academias, teatros, templos religiosos e afins. O transporte público, igualmente, era suspenso. “Precisamos adotar medidas drásticas para frear a curva do Coronavírus, adotar um remédio mais amargo, mas prudente”, explicava o prefeito.

E veio, em 19 de março, a confirmação do segundo caso de coronavírus em Campo Bom. Na data, além dos dois casos, o município contava oito situações suspeitas de Covid-19, quatro descartadas e nenhum óbito.

A situação continuava preocupante e novas medidas com finalidade de prevenir a proliferação do vírus foram tomadas no dia 20 de março. A Prefeitura decidia reduzir o número de vias de acesso de veículos à cidade e restringia a entrada a moradores ou pessoas que trabalhassem ou comprovassem vínculo com Campo Bom. Dos cerca de 20 acessos que permitem entrar no perímetro urbano do município, apenas quatro ficavam abertos ao trânsito, monitorados por agentes da Secretaria Municipal de Segurança e Trânsito. Novo decreto fechava o comércio e proibia a circulação de pessoas nas ruas, salvo em casos como aquisição de alimentos, medicamentos, água e outros bens essenciais. Naquele momento, Campo Bom tinha dois casos confirmados, ambos recuperados, e 12 casos suspeitos.

Exatamente um ano atrás, em 23 de março, eu, recluso em casa, por força da quarentena que se fazia necessária, postava nas redes sócias um artigo dizendo acreditar que todos nós (a humanidade) haveríamos de reavaliar nossa caminhada enquanto sociedade, sob pena de dizimarmos a espécie. Usava, como sugestão para reflexão, um trecho do livro “Creio em Deus Pai – o Deus de Jesus como afirmação plena do humano”, de André Torres Queiruga:

“Os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, que deveriam fazer de todo o homem um cidadão, foram açambarcados pelo ideal burguês, que proclama sua autonomia sobre a fome e a exploração de duas terças partes da humanidade.”

Passado um ano, com a média de uma morte por coronavírus a cada dois dias, em nossa amada Campo Bom, penso que não refletimos sobre nada, ou quase nada, e seguimos longe da tão falada e necessária empatia.

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