quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Morte em vida

A véspera do feriadão do Dia da Criança foi de fortes emoções para mim. Na quarta-feira, pela manhã, eu tentava entender o que havia ocorrido na noite anterior, lá no interior de Santa Catarina, naquele duplo acidente estúpido, quando uma colega de trabalho chegou na Redação, visivelmente emocionada.
- Gente, sabe a menininha que aguardava por um transplante de coração... que fizemos matéria? Ela conseguiu um doador, fez a cirurgia, mas houve uma rejeição... Faleceu.
Quase fui às lágrimas com a história da menina de apenas cinco anos e de sua família, que acabaram vencidos pela doença.
No início da tarde, uma notícia na Internet, também de morte, levou-me a remexer nos meus baús de recordações. O falecimento de Luís Carlos Scala, zagueiro do Inter lá nos anos 60/70, vítima do Mal de Alzheimer, com apenas 67 anos, igualmente, entristeceu-me.
Mas as emoções da quarta-feira não tinham terminado. À noite, quando cheguei em casa, minha mãe, D. Flor, estava a minha espera.
- Sabe quem morreu? Perguntou, com uma tranqüilidade que talvez somente vivendo mais de 80 anos e com uma religiosidade muito forte para consegui-la.
Como sempre procuro agir nestas horas, disse, sem titubiar:
- Claro, o Scala.
Ela, que sequer sabia quem era Scala, falou:
- O Eron.
Não foi nenhuma surpresa para mim. Eu já temia que isso acontecesse, mas não pude evitar a exclamação:
- Meu Deus, que droga!
Na manhã de quinta-feira, fiz uma caminhada, depois peguei minha motinho, que é um santo remédio contra muitos males, entre eles o estresse e a depressão (Só precisa muito cuidado com os perigos do trânsito.) e rodei uns 80 km, de Novo Hamburgo a Santo Antônio da Patrulha, para despedir-me do amigo.
Aproveito, quando caminho ou ando de moto, para refletir sobre a vida. E a morte é, como diz a sabedoria popular, a coisa mais certa da vida. Logo, não me faltava assunto para a reflexão.
O que mais me incomoda, com relação ao Eron, não é a maneira como ele escolheu deixar essa vida. Minhas convicções religiosas me fazem acreditar que ele foi recebido na glória de Deus. Aborrece-me o fato de, enquanto ele viveu, não ter parado com todos os meus afazeres, num dia qualquer, para visitá-lo e dizer, como já havia contado a outras pessoas, o quanto eu gostava dele. Na minha adolescência, ele fora uma referência, um ídolo. Assim como eu admirava o Scala no futebol e sonhava jogar como ele, eu, tímido e sem graça, pensava um dia crescer e ser como o primo Eron.
- Meu Deus, que droga! O tempo passa, nossos conceitos mudam. Quem sabe, não havia alguma coisa boa em mim que pudesse ajudá-lo nesses últimos tempos.
- Meu Deus, que pena!

Nenhum comentário: