Eu sempre fui contrário a qualquer tipo de intimidação ou uso da força para se fazer ouvir ou chamar atenção. Cumpre-me, entretanto, dizer que entendo que em algumas situações, quando há truculência e intransigência, não resta alternativa senão a manifestação de inconformidade. É assim que acontece em todos os segmentos e círculos de convivência: na família, na escola, no clube de futebol, na comunidade religiosa e, por que não, na sociedade como um todo.
O que temos visto nos últimos dias, em todos os rincões deste nosso imenso Brasil, em que pese alguns interesses espúrios, é a mais pura manifestação do inconformismo com a indiferença e falta de respeito com o povo, demonstrada pela esmagadora maioria dos nossos políticos, responsáveis por ditarem as normas que regem o País, ou seja, que regem as nossas vidas. Chegamos ao ponto em que estampar fotos e palavras de ordem contra a corrupção, contra a irresponsabilidade de administradores incompetentes ou mal intencionados já não era mais suficiente. Aí, deu no que deu: o povo saiu às ruas para pedir mudanças profundas em todos os segmentos. E, diga-se de passagem, a mudança precisa, necessariamente, passar por todos os cidadãos; o político precisa mudar sua maneira de agir, e, como cidadãos, eu e você, caro leitor, também precisamos refletir sobre a nossa conduta.
Eu já fazia essa leitura da situação, antes de acompanhar a sessão da Câmara de Vereadores de Campo Bom, na noite desta segunda-feira. Diante do que assisti na “Casa do Povo”, só reforcei meu ponto de vista. Depois de tudo o que se viu pelo País afora, a presidência da Câmara de Vereadores quis ignorar a presença dos quase 200 manifestantes, representantes legítimos das mais de 3 mil pessoas que foram as ruas de Campo Bom no último sábado pedindo mudanças e medidas urgentes.
Quando o povo todo clama por justiça, dignidade e respeito a seus direitos, eu jamais imaginaria que o presidente da Câmara de Vereadores fosse capaz de se negar a ler um ofício dos manifestantes durante a sessão; muito menos que ele tivesse a indelicadeza de dizer que o manifestante deveria protocolar seu ofício na secretaria da Câmara, no horário de expediente, para os trâmites legais. Mudanças urgem, meu caro presidente. E não será com um requerimento ao Executivo, solicitando redução no preço da passagem de ônibus, que os senhores vereadores vão aquietar o povo. Fiscalizar as tarifas do transporte público é uma das tantas atribuições dos senhores vereadores.
Conheço e defendo o respeito às leis, que podem ser mudadas sempre que elas estiverem ultrapassadas, mas me baseio, sempre, no bom senso. Em respeito ao povo, campo-bonense e de todo este imenso Brasil, era hora de interromper a sessão, dar a palavra a um representante dos manifestantes. Afinal, estávamos na “Casa do Povo”. Vale lembrar que em outras ocasiões, em manifestações menos expressivas, esse procedimento foi adotado, sem nenhum demérito ou diminuição do Poder Legislativo. Aliás, dentre as expectativas que tenho com todo esse movimento social que vivemos, está o fortalecimento dos poderes constituídos da nação. Quero, como a maioria dos brasileiros, uma democracia com Executivo, Legislativo e Judiciário respeitados e respeitáveis, que atendam às necessidades básicas do povo e não aos interesses de minorias privilegiadas.
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