sábado, 7 de maio de 2011

Minha mãe não sabe que eu cresci

Faz muito tempo, eu bem sei, mas hoje ainda lembro claramente das noites geladas de inverno. O minuano soprando forte, o frio entrando pelas frestas das paredes de madeira. O tijolo quentinho que passara o dia sobre o fogão à lenha, cuidadosamente enrolado sob o acolchoado, me aquecia os pés, mas não aplacava o medo do vento que uivava feito bicho, no oitão.
Noite após noite, ela se debruçava sobre minha cama, cantarolava uma musiquinha de ninar e depois rezava: “Com Deus me deito, com Deus me levanto. A graça de Deus, Divino Espírito Santo.” Às vezes, tinha dificuldades em entrelaçar os dedos para a oração, pois a água quase congelada do tanque de lavar roupas lhe deixava as mãos em carne-viva. Ela, porém, nunca reclamou daquela rotina e, noite após noite, cumpria o ritual, inverno após inverno. Com certa frequência, também levantava na madrugada quando eu chamava ou ela percebia que minhas roupas de cama estavam molhadas. Primeiro cuidava para que não me resfriasse. Rapidamente minhas roupas de dormir eram trocas, o colchão de palhas virado, o lençol trocado e, às vezes, até a fronha do travesseiro. Isso tudo fazia parte da sua rotina.
Cresci, essa sua preocupação passou, mas outras vieram. Umas maiores, outras nem tanto. O tempo passou. Muitas coisas melhoraram, evoluíram. As casas são mais confortáveis, surgiram as máquina de lavar roupas, não se usa mais o tijolo quente nos pés da cama. Sua atenção, entretanto, meio século depois, continua a mesma. Seus dedos menos castigados pelo frio, mas já sem a mesma agilidade de outrora, continuam se entrelaçando, noite após noite, para pedir por mim e por tantos outros que ela trata como se fossem este, sempre, filhinho querido.
Por tudo isso, o mínimo que posso fazer, neste Dia das Mães e todos os dias, é dar graças a Deus pela vida da D. Flor, minha mãe.

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