O telefone toca mais uma vez... aquelas ligações que a gente já sabe de onde vem.
- Alô! Atendo, disposto a amolar a moça que, eu bem sei, não tem culpa de nada.
- Alô! Responde uma voz jovial.
- Por favor, fale mais alto. Respondo, afastando o aparelho do ouvido, já me sentindo o máximo por estar atrapalhando o propósito da moça que, certamente, queria me vender dinheiro. É isso que o pessoal dessas ligações fazem, tentam te vender dinheiro.
- Eu gostaria de estar podendo falar com o seu Fernando.
- Da parte de quem? Retruco, percebendo que do outro lado da linha (Nem se fala mais assim, né?) está uma pessoa dos tempos pós-Chaves, aquele programa da TV que assistíamos diariamente mesmo sabendo de antemão os diálogos, mas riamos bastante.
- Como assim, da parte de quem?
- De que banco você é?
- Sou agente de crédito...
- De que banco? Insisto e ela me responde, mas não vem ao caso, aqui.
- Agradeço! Não trabalho com esse banco e não estou interessado na tua oferta de crédito consignado. Se precisar, procuro uma das agências dos bancos em que tenho contas.
Já sou cliente de três bancos: um onde recebo minha aposentadoria, outro onde recebo meu salário (pois preciso trabalhar para complementar a renda) e outro onde fiz um empréstimo para instalação de sistema de captação de energia solar, tentando diminuir o custo da luz.
- Mas o senhor nem sabe o que vou lhe oferecer! Retrucou a moça, sem esmorecer no seu firme propósito.
Eu é que ja estava perdendo as estribeiras.
- Desculpa, moça, mas mesmo velho e aposentado, preciso trabalhar e estou em pleno horário de expediente. Preciso desligar.
- Seu Fernando, o senhor não é velho, tem apenas 66 anos.
Ela já considerou meu aniversário que acontece no fim do mês, aumentando minha idade. Eles sabem tudo sobre a vida da gente.
- O senhor nem sabe o que posso estar lhe oferecendo.
- Agradeço tua preocupação com meu bem estar (Disse em tom irônico.), mas preciso desligar.
Mesmo contrariada, a moça me desejou um bom dia e desligou.